A educação está na raiz dos principais problemas e é uma das chaves de qualquer solução no Brasil. Além de esforços governamentais, há muitas organizações da sociedade civil, centros acadêmicos e pesquisadores individuais que fazem excelentes trabalhos para tentar acelerar a transformação da paisagem desoladora da qualidade da educação no Brasil.

O conhecimento está no centro do futuro da economia por ser o principal fator de aumento de produtividade. Está no centro da superação da baixa qualidade da democracia brasileira por permitir à cidadania cobrança mais consciente e efetiva sobre as autoridades representativas. E é a única oportunidade real de superação da chaga maior do Brasil, que é a gigantesca desigualdade.

Isso porque não se supera uma desigualdade como a nossa apenas com políticas de transferência de renda. Para reduzir significativamente a desigualdade, é preciso distribuir ativos. No século XX, esses ativos eram físicos, como terras, residências ou fábricas, e era sempre preciso expropriar alguém, geralmente em experiências revolucionárias que a história mostrou serem contraproducentes. Mas o principal ativo do século XXI é outro e pode ser redistribuído sem a necessidade de qualquer expropriação: o conhecimento.

Não se deve atribuir a questão exclusivamente à baixa qualidade da educação pública. Esse é, sem dúvida, o problema central. Mas a diferença no conhecimento acumulado do povo brasileiro quando comparado a outros povos é menor do que a diferença no conhecimento acumulado das elites brasileiras quando comparadas às elites de outros países (ver resultados do Pisa).

Ou seja, nossas elites, estudando em colégios particulares, sem qualquer restrição material ou de infraestrutura, aprendem e sabem menos do que as de outros países. E a diferença é maior do que quando comparamos as populações em geral.

As causas históricas são meio evidentes: o povo foi excluído do acesso ao conhecimento até menos de três décadas atrás, ficando fora das escolas, e as elites, em sua maioria, não precisaram de conhecimento para prosperar porque a competição de mercado era um fator menos importante do que as relações pessoais com o poder da ocasião. Das sesmarias às licitações fraudadas de hoje em dia.

O problema que o Brasil tem em mãos é, portanto, mais profundo. É cultural e é nesse plano que tem de ser enfrentado: a sociedade brasileira não dá valor e não se organiza para dar valor ao conhecimento.

A grandeza do povo brasileiro estará em reconhecer em si mesmo as limitações trazidas pela história e ser capaz de assumir abertamente querer que seus filhos sejam diferentes e melhores, mais instruídos e com mais conhecimento. Nesse contexto, o cultural, cabe enfatizar que a principal sala de aula é a política e os políticos, os principais professores, sendo esse, de longe, seu mais importante papel. E a aula está muito ruim.