BRASÍLIA - Menos de dois anos após deixar o PSB, por divergências públicas com a cúpula da legenda, o ministro da Educação, Cid Gomes, já é novamente pivô de uma crise partidária que ameaça sua permanência, assim como a de seu irmão, o ex-ministro Ciro Gomes, na quinta sigla à qual se filiou, o PROS. A conflagração entre a cúpula do partido e o ministro é pelo controle da legenda.

Com a autoridade e a caneta de ministro, Cid Gomes tem investido em políticos do PROS para criar um comando paralelo. Emplacou o novo líder na Câmara, Domingos Neto (CE), e, segundo seus adversários, tem minado a liderança do presidente da legenda, Eurípedes Junior. O ex-líder do PROS na Câmara, Givaldo Carimbão (AL), já defende que os irmãos Gomes deixem o partido.

— Cid tomou o partido politicamente e agora quer tomar também juridicamente. Tentei abrir os olhos do Eurípedes. Desde o começo, disse que ele não sabia o tamanho do problema que estava arrumando quando convidou os Gomes. Agora, ou eles saem, ou é melhor entregar logo o PROS para eles — diz o deputado.

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Presidente do partido ocupou executiva com parentes 

O presidente do PROS, o ex-vereador Eurípedes Junior, preencheu com seus parentes, a maioria sem experiência política, a maior parte das vagas na Executiva do partido. Sua mãe, Maria Aparecida dos Santos, é a primeira-secretária nacional. A única experiência que teve na política foi a de coletar assinaturas para a criação do partido. O irmão de Eurípedes, Fabrício George Gomes dos Santos, ocupa a primeira vice-presidência nacional e há outros sete integrantes da Executiva com sobrenome “dos Santos”.

O ministro Cid Gomes, segundo relatam integrantes da legenda, critica o que considera uma estrutura amadora e destaca que o partido já reduziu quase pela metade sua bancada na Câmara, passando de 20 para 11 deputados. Ele defende que a legenda se “profissionalize” se quiser despontar como um partido de algum peso no cenário nacional. O ministro também prega a fusão do PROS com outras siglas, o que tem gerado irritação na cúpula do partido.

EURÍPEDES ESTARIA ‘ABALADO’

Aliados de Eurípedes interpretam as críticas de Cid como um ataque ao fato de a família do presidente do PROS estar em peso na Executiva.

— Essa estrutura que está na Executiva é a mesma que criou o partido. Para coletar assinatura e criar o partido a família do Eurípedes servia, e agora para estar na Executiva não presta? — questiona o deputado Givaldo Carimbão, que diz que Eurípedes estaria “muito abalado” com as investidas.

Os primeiros sinais do estremecimento na relação ocorreram quando Cid começou a ser sondado para ser ministro. Reservadamente, integrantes do PROS trabalhavam para que outros nomes ocupassem cargos no governo Dilma Rousseff. Quando a presidente confirmou a escolha de Cid, as divergências se tornaram ainda mais claras, com nota assinada por Eurípedes e Carimbão afirmando que Cid Gomes não representava o PROS no governo Dilma.

Apesar dos conflitos, aliados do ministro da Educação dizem que ele não pretende se envolver nas questões burocráticas do PROS. É o que garante o líder da bancada, Domingos Neto (CE), cujo pai, Domingos Filho, foi vice de Cid Gomes quando este era governador. Embora não admita que haja na legenda uma ala ligada aos irmãos Gomes e outra ao presidente Eurípedes Júnior, o líder, que está em seu segundo mandato e tem apenas 26 anos, disse que quer construir a unidade do partido.

— Vamos estreitar a relação com o partido e ser um instrumento de aproximação para que o partido sinta-se um corpo só, não do Cid ou da Executiva — afirmou.