O método com que Dilma Rousseff preencheu os 39 postos de seu faraônico ministério foi, na essência, o de sempre sob o lulopetismo. Os cargos terminaram retalhados entre os principais partidos da eclética base do governo, na obtenção de apoio em troca de vagas e verbas públicas, puro fisiologismo. E, como ocorreu na gestão de Lula, partes da equipe estarão em estado de tensão constante, devido a diferenças profundas de visões entre alguns ministros. Disso resultará para a presidente o desafio da mediação política. Fácil para o presidente Lula, difícil para Dilma, devido às características pessoais de cada um.

No primeiro mandato, não houve conflitos desse tipo, pois Dilma saciou os “nacional-desenvolvimentistas” do PT, ideologia que professa. Com um Guido Mantega e um Alexandre Tombini disciplinados, pôde exercitar o experimentalismo com o “novo marco macroeconômico”.

 

 

 

Não deu certo, e, no segundo mandato, teve de ceder — não se sabe até quando — a condução da economia a um “fiscalista”, o ministro da Fazenda Joaquim Levy, tantos foram os problemas criados pelo “novo marco” — inflação, déficit externo etc.

Há pouco mais de doze anos, como o medo do PT no Planalto provocou uma corrida contra o real, o ainda candidato Lula não só se comprometeu formalmente a não quebrar contratos, por meio da Carta ao Povo Brasileiro, como assumiu nomeando para o BC o deputado eleito tucano Henrique Meirelles, havia pouco tempo saído da presidência de um banco globalizado, o BankBoston. Suprema heresia. Meirelles fez dupla com o hábil médico petista Antonio Palocci, ministro da Fazenda, enquanto Joaquim Levy, o ministro atual, cuidava de fechar guichês na Secretaria do Tesouro. E fizeram o ajuste de que a economia necessitava.

Dilma deve torcer para que o mesmo se repita. Mas os decibéis dos conflitos talvez sejam mais elevados, a julgar pelo primeiro choque, logo em discursos de posse. O petista Patrus Ananias, católico de esquerda, ministro de Lula responsável pelo Bolsa Família, assumiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário, reservado pelo PT a aliados do MST e similares. Assumiu atirando na ideia de que “não há mais latifúndios”, defendida pela colega Kátia Abreu, da Agricultura, senadora pelo PMDB de Tocantins. Patrus prefere relativizar o direito de propriedade, ao se alinhar à tese conhecida da “função social da terra”.

Pelo menos a senadora terá de ser administrada pela própria Dilma, porque o PMDB credita a nomeação da líder do agronegócio à conta pessoal da presidente. Ter no mesmo ministério o agronegócio e prepostos do MST é um truque lulopetista para governar na divisão, com diversas forças políticas, antagônicas, representadas. Funcionou com Lula enquanto o mundo crescia de forma sincronizada. Sem ele e numa conjuntura global diferente, não se sabe o que acontecerá. Mas, até mesmo por isso e, como se viu no primeiro mandato de Lula, o ajuste precisa ser feito.