BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff finalmente conseguiu montar um Palácio do Planalto a seu estilo. Depois de diferentes configurações, os ministros que despacham ao lado de Dilma são todos homens de sua inteira confiança, gente que ela tem sob suas rédeas e que não tende a falar o que ela considera impróprio. Eles têm em comum o fato de serem disciplinados e cumpridores de tarefas. Nos corredores do Planalto, já são apelidados de “os meninos de Dilma”.

Na composição atual, Aloizio Mercadante comanda a Casa Civil; Miguel Rossetto, a Secretaria-Geral; Pepe Vargas, a Secretaria de Relações Institucionais (SRI); e Thomas Traumann, a Secretaria de Comunicação Social (Secom).

Velho conhecido de Dilma do mestrado em Economia da Unicamp, na década de 80, Mercadante assumiu a Ciência e Tecnologia em 2011 e lá formatou o Ciência sem Fronteiras, hoje uma das vitrines do governo.

Em seguida, foi “promovido” para a Educação, onde chefiou duas edições bem-sucedidas do Enem. Na posse do Papa Francisco, em abril de 2013, Dilma pediu a ele que não concorresse nas eleições do ano seguinte, pois o queria no governo. Mas só após as manifestações de junho daquele ano Mercadante foi alçado ao posto de braço-direito de Dilma, virando seu principal conselheiro político. Dali para a coroação como ministro da Casa Civil, em fevereiro do ano passado, foi questão de tempo.

Rossetto se aproximou de Dilma ainda no governo do Rio Grande do Sul (1999-2002), onde ele era vice-governador e ela, secretária de Minas e Energia. Mas só chegou à Esplanada em março passado, quando ela o levou para o Desenvolvimento Agrário. Reaproximaram-se, e, no auge da disputa de 2014, quando Dilma corria o risco de não se reeleger, ele passou a coordenar a campanha e a acompanhar a presidente em todos os atos.

RELAÇÃO COM PEPITO TAMBÉM COMEÇOU NO RS

Chamado reservadamente pela presidente de “Pepito”, o ministro Pepe Vargas é outro que conhece Dilma do Rio Grande do Sul. Ele antecedeu Miguel Rossetto no Desenvolvimento Agrário, onde ficou entre 2012 e março passado. Na transição do primeiro para o segundo mandato, a presidente o escolheu para tocar a articulação política do governo, para surpresa de todos e desgosto de alguns que o consideram pouco experiente para o cargo. Quem é próximo de Dilma, porém, vê com naturalidade a escolha do petista, integrante da minoritária corrente Democracia Socialista (DS), e diz que, se Pepe não voltasse para a Esplanada, seria o líder do governo na Câmara.

— A Dilma gosta muito do jeito do Pepe trabalhar. Ela dá uma missão, ele abaixa a cabeça, ouve e cumpre. Ele fica calado quando tem que ficar e fala quando tem que falar — conta um interlocutor.

Um colega do ministro emenda:

— É um cara correto, íntegro e tem uma qualidade básica para ser ministro de Dilma: entrega resultados.

O próprio ministro tem repetido que tarefa de governo é para ser cumprida.

Thomas Traumann foi conquistando Dilma aos poucos. Como porta-voz até janeiro do ano passado, o jornalista acompanhava a presidente em muitas viagens. O jeito objetivo do paranaense de origem alemã agradou à petista, que acabou o colocando no lugar da então ministra da Secom, Helena Chagas. Depois da Copa do Mundo, Traumann capitalizou o bom resultado que o governo obteve na realização do evento e resolveu atender a vários pedidos de entrevista acumulados desde o início do governo. Dilma falou com a CNN, com o “New York Times”, com uma agência chinesa e até com a rede árabe Al Jazeera.

Cada um com seu perfil, os quatro ministros palacianos seguem a mesma cartilha. Sabem que, como herança dos tempos de chumbo, Dilma não admite que planos e decisões em andamento dentro do governo vazem para a imprensa antes de ela dar o ok. A presidente também valoriza quem estuda cuidadosamente sua área, tem metas e as cumpre com afinco. Apesar de ter dado algumas declarações desastradas, Mercadante, por exemplo, só convoca a imprensa por ordem de Dilma.

— A presidenta é bastante rigorosa consigo e com os outros — resume um auxiliar.