Título: Novo show de Deborah Guerner
Autor: Taffner, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 21/07/2011, Cidades, p. 20

Enquanto os desembargadores do Tribunal Regional Federal da 1ª Região decidiam pela abertura de ação penal contra a promotora e o ex-procurador-geral de Justiça do DF Leonardo Bandarra, ela desmaiou em meio a uma crise nervosa

Mais uma vez, Deborah Guerner roubou a cena e conseguiu, temporariamente, tirar as atenções das denúncias apresentadas contra ela ao protagonizar novo suposto ataque de nervos. Durante julgamento no Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, na manhã de ontem, a promotora saiu do plenário para acompanhar o marido, Jorge Guerner, que passava mal. No trajeto até o posto médico, que fica em prédio em frente ao tribunal, no Setor de Autarquias Sul (SAS), ela começou a gritar e demonstrar aflição. "Meu marido vai morrer!", bradou diversas vezes até desmaiar e cair no meio da rua. Acabou carregada pelo brigadista do órgão. As cenas, no entanto, não atrapalharam os desembargadores, que decidiram, depois de seis horas de sessão, abrir ação penal contra o casal, o ex-procurador-geral de Justiça do DF Leonardo Bandarra, o empresário Marcelo Carvalho, o ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa e a ex-servidora do GDF Cláudia Marques.

Uma hora e meia após dar entrada no ambulatório, Deborah Guerner deixou o local em uma cadeira de rodas, aparentando ainda mal-estar e precisou de ajuda para entrar no carro. No entanto, boletim (veja ao lado) expedido pelo médico Vinícius Eduardo Silva Prado, responsável pelo atendimento, informou que, desde o início dos procedimentos, a paciente estava lúcida, orientada no tempo e espaço e clinicamente estável. Mesmo assim, ela tomou um comprimido de 2 miligramas de Rivotril e ficou sob observação. Saiu do local à revelia depois de assinar termo de responsabilidade. "Apesar de permanecer clinicamente bem, (Deborah) solicitou uma cadeira de rodas para chegar até o carro", relatou o médico.

Os ataques de Deborah Guerner têm se tornado rotineiros (leia quadro). Em 6 de abril , a promotora deu chilique durante sessão do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que julgava processo administrativo contra ela e Bandarra. Como no julgamento de ontem, a crise não convenceu e os conselheiros pediram a demissão da promotora. Catorze dias depois, Deborah e o marido foram presos por fraude processual. Imagens do circuito interno da casa do casal mostram os dois sendo orientados pelo psiquiatra Luís Altenfelder sobre como a promotora deveria se comportar para ser diagnosticada portadora de transtorno bipolar múltiplo. No entanto, ela foi considerada responsável pelas próprias atitudes por peritos do Instituto Médico Legal e teve o incidente de insanidade negado pelos desembargadores do TRF-1, em ação preliminar ao julgamento de ontem.

Segundo o advogado do casal, Paulo Sérgio Leite Fernandes, o problema mental da paciente é real e, por isso, não merece condenação. "Ela é insana. No português rude, ela não bate o pino", disse. Deborah mostrou desespero ao tentar ajudar o marido, que não estaria se sentindo bem. Segundo ela, Jorge sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) há 15 dias e chegou a cair dentro do avião durante uma viagem. "Ele vai morrer por conta de toda essa injustiça", disse a promotora. Ela já havia provocado tumulto no início da sessão ao se levantar e esbravejar contra o procedimento. O presidente do tribunal ameaçou expulsá-la do plenário caso continuasse atrapalhando o andamento dos trabalhos. Deborah se acalmou e se sentou novamente.

Extorsão Os desembargadores declararam haver indícios suficientes para tornar os denunciados réus de ação penal. Eles são acusados de tentar extorquir o então governador do DF, José Roberto Arruda. As evidências giram em torno de Deborah e estão registradas nos vídeos gravados na residência dela e em depoimentos. Em julho de 2009, o casal mobilizou os demais denunciados para agendar uma reunião com o ex-governador.

O encontro foi organizado por Marcelo Carvalho, que, à época, trabalhava nas empresas do então vice-governador, Paulo Octávio (DEM). Em depoimento prestado em setembro de 2010, Arruda confirmou a reunião e disse que só aceitou o encontro com Deborah devido à insistência do seu vice e de Durval. A promotora seguiu para a residência oficial de Águas Claras e teria se descontrolado devido à suposta negativa do governador sobre a tentativa de chantagem.

Deborah Guerner queria vantagens para a empresa Nely Engenharia e Logística nos contratos de coleta de lixo do Distrito Federal, além de R$ 2 milhões para não divulgar o vídeo. Gravações mostram Jorge e a mulher conversando sobre o caso. "E a estratégia? Falar com ele aqui em casa para o Leo (Bandarra) confirmar que já tem tudo. Porque, se não disser que já tem tudo, você não pode ameaçar", disse o marido, que, segundo as investigações, era sócio oculto da Nely. Cláudia Marques foi a responsável pela aproximação de Durval com o casal Guerner e intermediária dos negócios escusos.

Nulidade O advogado Paulo Sérgio Leite Fernandes, que defende o casal Guerner, vai tentar anular o julgamento de ontem. Segundo ele, alguns procedimentos não foram devidamente conduzidos. Sem esmiuçar a tática, ele limitou-se a citar a negativa do presidente da Corte, Olindo Menezes, em atender o pedido de ampliação do tempo de sustentação oral. "Eu precisava de meia hora e ele só me deu 20 minutos. Isso vai anular o julgamento", afirmou.