A Colômbia cresceu 4,8% em 2014, manteve a inflação em 3,6%, dentro da meta cujo teto é 4%, e diminuiu seu déficit nominal em relação ao ano anterior. Lá, o déficit tem que cair todo ano, do contrário, o ministro é responsabilizado. O ministro da Fazenda colombiano, Maurício Cárdenas, só entrou de férias depois de cumprir todas essas metas. Veio descansar no Brasil.

Aqui, ele soube que tinha sido eleito pela revista britânica “The Banker” o melhor ministro da Fazenda das Américas. De fato, há dificuldade de encontrar quem tenha um desempenho melhor por aqui. Ao seu lado, a Venezuela está oficialmente em recessão e com uma inflação de 70%. O câmbio oficial venezuelano é um dólar por seis bolívares, mas no paralelo a cotação chega a 180 bolívares.

O que a Colômbia tem feito de certo para crescer em média de 4,5% desde 2010? Muita coisa. Eles perceberam há algum tempo que eram muito dependentes do comércio com a Venezuela, que chegava a US$ 6 bilhões e havia começado a cair. Hoje, é US$ 1,5 bilhão porque os empresários colombianos não querem vender para a Venezuela pelas dificuldades de receber.

— Começamos deliberadamente a negociar acordos comerciais bilaterais para diversificar produtos e mercados. Fechamos 25 acordos. Começamos com os EUA, mas eles estavam em crise e agora é que vamos aproveitar melhor. Fizemos com a Aliança do Pacífico, Chile, México e Peru. Acabamos de assinar com a Coreia e estamos negociando com o Japão. Não temos outros em vista. Mas temos uma economia aberta, que tenta atrair capital estrangeiro e respeita acordos que assina — disse ele.

Cárdenas diz que a receita do sucesso do crescimento é um conjunto:

— O segredo é o modelo híbrido de controle fiscal, inflação baixa e investimento social. Por lei, temos que ter um déficit nominal declinante. Acabamos de aprovar um pacote de aumento de impostos, principalmente sobre pessoa jurídica, de 1,5% do PIB, porque temos que nos preparar para as consequências da queda das receitas com petróleo.

O café já foi o primeiro item de exportação do país, hoje é o quarto. O primeiro é o petróleo:

— Há muitos anos o café não é nosso maior produto de exportação. A Colômbia produz 1 milhão de barris por dia, o que nos coloca como exportador. Hoje, 50% das nossas exportações são petróleo, e representam 5% do nosso PIB e 16% das receitas fiscais do governo. Apesar desse peso, temos uma estrutura econômica bastante sólida, até porque o fenômeno do petróleo é recente.

Em 2014, a indústria cresceu apenas 1%. Isso é bem menos do que o PIB do país, mas em outros países, como no Brasil, foi ano de recessão no setor. Ele acha que a recuperação da economia americana, que é um importante parceiro, e o dólar mais alto permitirão um desenvolvimento maior da indústria. Mesmo assim acha que em 2015 o país vai crescer 4,2%, menos do que no ano passado, pelo efeito do petróleo.

Enquanto conversava aqui na coluna, ele trocava mensagem com o ministro das Minas e Energia. Está sendo reduzido o preço da energia, pela queda da cotação do petróleo. Segundo explicou, a Colômbia tem um mecanismo que suaviza as altas e as quedas do combustível, mas não controla preços.

A Colômbia tem imposto sobre grandes fortunas, de pessoas físicas, e que incide sobre lucros das empresas. Aprovou um pacote de aumento de impostos, em que uma parte foi renovação de tributos que deixariam de vigorar, com meio por cento do PIB de novos impostos:

— Sem a aprovação desses tributos, eu não poderia sair de férias. Isso garante o cumprimento da meta fiscal. Em 2014, o déficit nominal (que inclui o pagamento da dívida) foi 2,3%. A cada ano tem que ser um pouco menor até chegar em 2018 a 1,9%. Se não cumprir, recebo uma advertência ou multa, dependendo da gravidade. Há um comitê independente consultivo na área fiscal que acompanha o desempenho das contas.

Ele e Joaquim Levy se conhecem há tempos, os dois estiveram por uma hora e meia juntos na quarta-feira e conversaram sobre as várias possibilidades de integração entre os países. Hoje, o comércio é maior com os países da Aliança do Pacífico. Mas ele diz que tem especial interesse no Brasil desde que estudou em Berkeley e foi aluno do brasilianista Albert Fishlow.