Ao fazer referência à dengue, pode-se dizer que o perigo está ao lado. Ainda que a quantidade de casos registrados no Distrito Federal, nos primeiros meses de 2015, tenha diminuído 46% em relação ao mesmo período do ano passado, os casos da doença explodiram em Goiás, especialmente em cidades como Pirenópolis, Alto Paraíso, Goiânia e Anápolis. Nesses municípios, o trânsito de moradores do DF é intenso, seja por turismo, seja por negócios. E acabam expostos às quatro cepas do vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.

Dados da Secretaria de Saúde de Goiás mostram um aumento de 55,48% do número de casos notificados, de 4 de janeiro a 17 de março, em relação ao mesmo período de 2014. Considerando o último levantamento publicado, já ocorreram sete óbitos em decorrência da doença. Em 2014, o estado registrou 92 mortes por dengue. As três cidades mais populosas de Goiás estão no topo do ranking de notificações. Em primeiro lugar, está a capital, Goiânia, onde, somente este ano, foram mais de 18 mil infectados e uma morte. A vizinha Aparecida de Goiânia ocupa a segunda colocação, com quase 4 mil infecções. Em seguida, aparece Anápolis, com 1.345 casos notificados.   


A Superintendência de Vigilância Sanitária de Goiás reconhece o avanço da dengue no estado. As últimas chuvas levaram ao aumento da quantidade de mosquitos, em decorrência da formação de depósitos de água parada, explicou o órgão, por meio de nota. Outro fator que colabora para o avanço de casos é a circulação simultânea da dengue tipo 1 e da tipo 4, que atingem um número maior de pessoas (leia Para saber mais). A Vigilância chama ainda a atenção para a necessidade de colaboração da população. É baixa a adesão da sociedade em ajudar o poder público a conter o avanço da doença. Isso favorece o recrudescimento de casos de dengue, afirma o órgão.

O risco é significativo para a população do DF que visita as áreas de maior incidência da doença em Goiás (veja quadro). Segundo o assessor de mobilização institucional e social para a prevenção de dengue da Secretaria de Saúde, Aílton Domício, o principal perigo é para quem mora ou vai às cidades goianas com muita frequência. Domício aconselha a prevenção durante a visita. Uma coisa importante a ser lembrada é que o mosquito vive em locais onde tem gente, e não em florestas ou cachoeiras. Ele também costuma picar mais no início da manhã e no fim da tarde. Usar repelente é um cuidado necessário, ensina.

Quanto à proliferação do mosquito, Domício explica que o problema em Goiás ainda não representa um risco iminente para o brasiliense. Ele frisou, no entanto, a importância de manter os trabalhos de prevenção na região. O DF já é uma área de transmissão da dengue e, por isso, é importante continuar com as ações de controle.

Turismo em risco


Alto Paraíso, distante 200km de Brasília, é um dos municípios com alta incidência de casos. Até o início de março, houve 116 registros na cidade, segundo informações da Secretaria de Saúde do Estado de Goiás. O número é 12 vezes maior que o do mesmo período no ano passado, quando houve apenas nove notificações. A quantia já superou o total de casos da doença em todo o ano de 2014 foram 94. A cidade é um dos principais destinos turísticos dos brasilienses, adeptos às belezas naturais da Chapada dos Veadeiros. Em janeiro, inclusive, um morador de Ceilândia chegou a contrair dengue enquanto visitava Alto Paraíso.

Segundo funcionários do Hospital Municipal Gumercindo Barbosa, principal unidade de saúde da cidade, o fluxo de pessoas reclamando de sintomas de dengue tem aumentado. No início do ano, por ser um período de chuvas, o número de casos costuma aumentar um pouco, mas não tanto como desta vez, diz a técnica em enfermagem Roseni Rodrigues Neto. Como é uma cidade pequena, com aproximadamente 7 mil habitantes, o hospital recebe pacientes com a doença de todos os bairros do município.

Só na família da professora Antônia Felícia da Silva, 68 anos, foram três casos de dengue: os dois filhos que moram com ela adoeceram, e a mulher do terceiro, que reside em outra casa, também. Além disso, ela mesma e um dos netos estão com suspeita de dengue. Foi feito um trabalho de limpeza no meu quintal para garantir que não houvesse focos do mosquito, então ele deve estar presente em outros lugares da cidade, conta Antônia, que conhece pelo menos outros seis moradores de Alto Paraíso que ficaram doentes. Ângelo da Silva, 42, um dos filhos que teve dengue, precisou ficar internado por cinco dias. Fui muito bem atendido no hospital, mas fico preocupado com a falta de controle por parte do governo, em relação ao aumento dos casos, comenta o professor.


O secretário de Saúde de Alto Paraíso, Alexandre Lopes Araújo, informou que estão sendo tomadas as providências. A maioria dos casos foi em janeiro e, desde então, já temos conseguido diminuir esses números. Fizemos trabalhos de limpeza em várias áreas e também de conscientização entre os vizinhos, explica. Segundo Araújo, o principal motivo do surto de dengue foi a falta de conhecimento por parte da comunidade. Muitos moradores não tomam os cuidados necessários porque não sabem o perigo de, por exemplo, não deixar água parada em vasos. Isso pode causar o adoecimento de várias pessoas.

Em fevereiro deste ano, o município também teve problemas com febre amarela. No dia 8, às vésperas do feriado de carnaval, um morador de Alto Paraíso morreu vítima da doença. O jovem de 23 anos estava internado no Hospital Regional de Planaltina, em Brasília. Ele chegou a passar pelo Hospital de Santa Maria, foi transferido para a UTI, mas não resistiu ao tipo mais grave da doença. Na semana anterior, um belga também foi infectado. Morador da Grécia, o homem chegou ao Brasil por São Paulo, em janeiro, ficou alguns dias em uma comunidade rural em Alto Paraíso e teve a febre amarela diagnosticada no Rio de Janeiro. Depois dos dois casos, a prefeitura intensificou as ações de prevenção e convocou moradores e visitantes a se vacinarem contra a febre amarela.
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Os quatro tipos de vírus

A dengue apresenta quatro variações para o vírus. São o DEN-1, o DEN-2, o DEN-3 e o DEN-4. Nas quatro versões, os sintomas são os mesmos: febre alta, dores, incômodo nos olhos e, comumente, manchas vermelhas pelo corpo. Como há diferentes tipos, um paciente pode se infectar até quatro vezes pela doença. A cada nova infecção, no entanto, o quadro se intensifica e o mal-estar é maior. Dessa forma, a cada manifestação da doença, o cuidado deve ser redobrado, principalmente em relação aos cuidados com a hidratação e com a função hepática do organismo. O DEN-4 é o tipo mais recente no país e decorreu de uma mutação das outras versões. Em Goiás, a cepa 4 foi identificada a partir de 2012.

Não há tratamento específico para a dengue, apenas para os sintomas. A recomendação é ingerir bastante líquido, como água, sucos, chás e soro caseiro. A febre alta e as dores podem ser tratadas com dipirona ou paracetamol. Além disso, medicação à base de ácido acetilsalicílico e de anti-inflamatórios deve ser evitada, pois aumenta o risco de hemorragias.