Até pouco tempo vista como um novo eldorado fluminense, a região no entorno do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, vive hoje um clima de desolação. As demissões em massa de trabalhadores, que já teriam chegado a 5 mil nos últimos três meses, aliadas a problemas como o atraso dos salários dos 2,5 mil operários da Alumini Engenharia, responsável por uma parte da obra do projeto da Petrobras, estão levando pequenos empreendimentos a baterem em retirada. Os que ainda resistem preveem queda substancial de receita.

É o caso do empresário Berg Sena, sócio do Sete Bar e Restaurante, instalado em Itaboraí. Boa parte do faturamento da casa vinha da Alumini, que estaria devendo cerca de R$ 40 mil referentes à alimentação de seus empregados. Na quinta-feira, o restaurante decidiu cortar o atendimento aos funcionários da empresa, amargando redução de 40% no movimento.

- Estamos há mais de um mês atendendo os funcionários sem receber, em consideração aos trabalhadores, mesmo arcando com os custos, como impostos e compra de insumos. Agora não dá mais - lamenta Sena.

Pior é a situação de Leonardo Féo, que em 2008 deixou Macaé motivado pelo boom de desenvolvimento em Itaboraí. Abriu duas pousadas para abrigar operários de outros estados contratados pelas empreiteiras, principalmente da Alumini. Sem receber há três meses, alega ter um crédito acumulado de R$ 435 mil junto à empresa. Para pagar aos próprios funcionários, está vendendo o mobiliário.

- Vou fechar as portas, encerrando um sonho de vida.

Féo calcula sair do negócio com prejuízo de R$ 1,5 milhão:

- Não despejei os operários por humanidade, porque sei que eles não têm para onde ir. Alguns me pediram para deixar apenas o colchão - conta o empresário.

Outro drama é a demissão dos seus próprios empregados. O quadro de 60 já caiu para 40, que sabem que vão para a rua.

recuperação judicial

A situação da Alumini ganhou destaque semana passada. Com as contas bloqueadas pela Justiça do Trabalho de Ipojuca (PE) até acertar a dívida com funcionários da Refinaria Abreu e Lima, a empreiteira diz que não pode quitar o que falta e descumpriu o acordo firmado com o Ministério Público do Trabalho para pagar a rescisão de 469 dispensados entre novembro e dezembro no Comperj. A rescisão incluía passagem de retorno dos que vieram de outros estados. A segunda parcela do 13º e o salário de dezembro dos 2,5 mil funcionários não foram pagos. Em protesto, operários impedem o acesso ao complexo desde o dia 8.

Na sexta-feira, a Alumini pediu à Justiça para entrar em recuperação judicial, instrumento pelo qual ficaria protegida dos credores. Em nota, disse que não restou alternativa, entre outros motivos, porque não recebeu créditos de mais de R$ 1,2 bilhão da Petrobras. Semana passada, a estatal disse que estava em dia com as obrigações com os fornecedores.

O drama atinge trabalhadores como o encarregado de montagem que, temendo ser barrado em outras obras, pediu para ser identificado apenas como Anderson, de Belém, dispensado em novembro. Sem receber parte da rescisão e a passagem de volta, diz ser obrigado a pagar hospedagem. Quem sofre é a família, que ficou em Belém. O aluguel da casa está atrasado, e ele não sabe como vai comprar o material escolar das três filhas.

Mecânico de montagem, Fernando, que também preferiu não dizer seu sobrenome, trouxe a família para o Rio. A mulher, Rute, está no sexto mês de uma gravidez de risco. Com o plano de saúde cortado desde 20 de novembro, está custeando o pré-natal.

- O pior é que nem posso trabalhar em outro lugar porque, oficialmente, continuo empregado da Alumini. A sensação é de abandono.