Esta semana, High Wycombe - 50 quilômetros a oeste de Londres - voltou aos noticiários pelo tema que se tornou motivo de preocupação recorrente entre os seus 120 mil habitantes e o resto do Reino Unido: a radicalização. O jovem Shabazz Suleman, de 19 anos, ex-aluno da prestigiosa Royal School of Grammar, teria se juntado às forças do Estado Islâmico (EI) na Síria, de acordo com o próprio em entrevista ao jornal "The Times".

Na conversa com o periódico britânico pela internet, ele comemorou o ataque ao "Charlie Hebdo" e avisou que havia outras células na Europa prontas para agir: "Há tantos irmãos apenas à espera de uma ordem para realizar ataques no Ocidente".

Suleman não é o único filho de High Wycombe - uma das cidades com maior proporção de muçulmanos do país - a se tornar um jihadista. Em dezembro, a polícia britânica prendeu um homem acusado de envolvimento com atos terroristas fora do país. Em novembro, foi a vez de outras quatro pessoas que estariam por trás de um suposto plano para assassinar a rainha durante os festejos do armistício da Primeira Guerra Mundial.

O Reino Unido é hoje um dos países que mais exporta homens para a fileiras do EI. Estima-se em 500 o número de britânicos que se uniram ao contingente estimado em 1.500 estrangeiros lutando no Iraque e na Síria.

Para Katharine Brown, do departamento de Defesa de King's College, a radicalização não acontece necessariamente nas capitais. High Wycombe, Birmingham, Portsmouth, Bristol e Cardiff acabaram entrando em evidência nos últimos anos por terem gerado jihadistas. Para Katherine, a explicação poderia estar no fato de essas localidades não terem os mesmos níveis de diversidade, oportunidade e conexões de Londres.

- As comunidades muçulmanas são menos ricas, e têm níveis menores de "capital social". São mais altamente segregadas e enfrentam problemas maiores de desemprego e pobreza, em parte exacerbada pelo efeito desproporcional que o declínio econômico do país e as medidas de austeridade fiscais têm nessa cidades em geral - afirma.

O contexto sociocultural também influi na formação dos novos jihadistas. Ao que tudo indica, de maneira muitas vezes contraditória. Enquanto 35% dos autores de crimes ligados ao terrorismo estariam desempregados, confirmando o que dizem a maioria dos especialistas, que apontam a falta de oportunidades econômicas como um dos fatores de base para a radicalização, 33% teriam nível superior completo, o que vai de encontro com a teoria de que teriam menos escolaridade e menos acesso à educação.

Especialista em Psiquiatria cultural, o professor Kamaldeep Bhui, da Queen Mary University London, afirma que, bem mais importante do que pobreza, experiências de discriminação e eventos ou adversidades da vida, depressão, isolamento e enfado podem explicar a radicalização de jovens. Durante cinco anos trabalhando com o tema, ele entrevistou 600 pessoas.

- A depressão era mais comum entre os simpatizantes, e parece estar associada à essa vulnerabilidade. As pessoas relativamente isoladas socialmente também eram mais vulneráveis - disse.

Para Katherine, não são necessariamente os mais pobres e discriminados que mais se mobilizam. Isso porque a maior parte destes grupos não tem nem condições de viajar.

- E porque são a classe média e os mais educados que têm disposição e tempo para se instruir por meios próprios ou se interessam neste tipo de assunto. São eles que têm aspirações que não são atendidas pelo Reino Unido.