Os exportadores brasileiros encontraram uma oportunidade em janeiro para levantar recursos mais baratos e com prazos maiores, antecipando parte da demanda do ano. No entanto, a disparada do dólar desde fevereiro acabou por afastar os exportadores, que, assim como os importadores, agora têm evitado fechar operações de contratação de câmbio.

Em janeiro, a contratação de linhas de Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) e Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE) somou US$ 2,537 bilhões, volume 43,08% maior que o do mesmo mês do ano passado. A taxa média em que foram tomados esses recursos, de 2,08% ao ano, é a menor da série histórica do Banco Central (BC), que começa em junho de 2000.

O aumento de volatilidade na taxa de câmbio diminuiu o apetite por contratação das linhas de financiamento por exportadores, ainda que o dólar acumule alta de 20,85% desde fevereiro, cotado a R$ 3,2496 na última sexta-feira.

Em fevereiro, o volume contratado de ACC recuou 36,29% em relação ao mesmo período de 2014, para US$ 2,177 bilhões. Na primeira semana de março, o volume contratado continuou mais baixo em relação ao ano passado, apontando queda de 9,51% nos cinco primeiro dias úteis do mês, na comparação com o mesmo período do ano anterior. "O mercado está parado. O problema é que a oscilação do real faz com que os exportadores e importadores não queiram fechar o câmbio", afirma Tarcísio Rodrigues, diretor de câmbio do Banco Paulista.

Na visão dos bancos, as empresas exportadoras aguardam um período de maior estabilidade do câmbio para fechar operações. "Temos algumas empresas esperando um melhor momento", diz Mauro Albuquerque, chefe da área de comércio exterior do Santander. "Desde que não haja ruptura, o diferencial entre as taxas de juros locais e externas vai continuar, o que indica que essas linhas devem crescer no ano", afirma.

Segundo Albuquerque, a diferença entre as taxas de juros de uma linha de comércio exterior e uma linha local chega a 1,5 ponto percentual ao ano. As linhas externas em geral têm como referência a taxa interbancária londrina, a Libor, que estava em 0,4031% para o contrato de seis meses. Não custa lembrar também que, em tempos em que a saúde das empresas anda um tanto debilitada, linhas de ACC ficam fora de processos de recuperação judicial.

A volatilidade do câmbio afeta principalmente as linhas de curto prazo, como o ACC e o fechamento de câmbio para importação. O prazo médio de um ACC estava em 7,8 meses em janeiro. São linhas que servem como capital de giro, em que o banco antecipa reais ao exportador de uma exportação já acertada, tendo até 360 dias para fazer o embarque. Ou seja, boa parte das exportações que estão sendo embarcadas agora já teve o câmbio contratado no ano passado, e os recursos dessa dívida foram utilizados para financiar a safra, diz Rodrigues, do Banco Paulista.

"Os exportadores devem começar a contratar a partir de maio as linhas de exportação para o financiamento da próxima safra", diz Rodrigues.

O Banco do Brasil (BB), um dos principais atores desse mercado, observou, em janeiro, uma elevação na demanda por cotações de operações de ACC da ordem de 98% em relação ao mesmo mês em 2014. Os desembolsos do banco na linha foram de US$ 1,06 bilhão, crescimento de 78% ante o mesmo mês do ano passado. O BB pondera, contudo, que somando as contratações de fevereiro à conta, os desembolsos ficaram estáveis.

 

A piora na percepção de risco do Brasil ainda não contaminou, de forma ampla, o preço das linhas de comércio exterior. "Os bancos ainda têm muita liquidez para essas linhas, que, por ora, não refletiram a piora do risco Brasil", afirma Adoniro Cestari, responsável pela área de produtos corporativos do Citibank.

Albuquerque, do Santander, acredita que as linhas devem ter bom desempenho mesmo com a piora da balança comercial brasileira. "Apesar da queda da pauta de exportação, acredito que possa aumentar a participação de financiamento associada a esses fluxos."

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) prevê queda de 4,3% das exportações brasileiras no ano em relação a 2014, que devem somar US$ 251,36 bilhões, em função de dificuldade nos principais destinos para esses produtos, como a Argentina, e queda no preço das commodities.

Apesar da atratividade de taxas, outras linhas de crédito em moeda estrangeira, de mais longo prazo, estão com procura reduzida neste ano. O volume contratado via linha de Pagamento Antecipado (PA), que pode chegar a cinco anos de duração, apresentava recuo de 50,24% no ano até 6 de março, a US$ 6,124 bilhões. Essa linha também é usada para trazer para o Brasil recursos captados via emissão de bônus no exterior - mercado que está travado neste ano.

Como esses recursos são de prazos mais longos, a seletividade dos bancos em aprovar tomadores é maior. Além disso, o número de projetos que demandam recursos em prazos maiores praticamente desapareceu neste ano. "Temos visto contratação de linhas com no máximo três anos de duração, ante os cinco que costumavam ser o normal", afirma a advogada Marina Anselmo Schneider, sócia do escritório Mattos Filho.

Cestari, do Citi, diz que "nas linhas que concedemos, os tomadores estão vendo oportunidades para melhorar seu perfil de dívidas".

"Não falta oferta de recursos pelos bancos, falta demanda das empresas", afirma Marcelo Habibe, tesoureiro da fabricante de celulose Fibria, um dos maiores exportadores do país. "A questão é que já otimizamos nossa dívida no ano passado e projetos que demandem investimentos mais longos ainda não estão prontos. Então ainda não está claro como aproveitar este momento", diz. Segundo o executivo, parte da liquidez que "sobra" hoje no mercado era destinada a grandes nomes nacionais envolvidos em escândalos, como a Petrobrás e as empreiteiras.

Os bancos relatam demanda por empréstimos em moeda estrangeira de empresas que não têm fluxos comerciais no exterior. É o caso das linhas de capital de giro em dólar, as chamadas "4131". No Santander, o volume de contratações de 4131 no último semestre de 2014 cresceu quase 50% ante igual período do ano passado. "Elas não são tão baratas quanto linhas de comércio exterior, mas são mais atraentes que linhas locais", diz Albuquerque.

Segundo um executivo, porém, a "farra" da 4131 pode estar com os dias contados. "Há bancos estrangeiros que repassam essas linhas aos locais, que já estão tomados demais em empresas brasileiras. E nenhum vai aumentar o limite." (Colaborou Vinícius Pinheiro)