Alinhada ao discurso do PT, a ex-presidente da Petrobras Graça Foster questionou declarações do ex-gerente de serviços da estatal Pedro Barusco e sugeriu que não era possível ele receber, sozinho, propina em contrato da empresa "sem que outros soubessem", como afirmou Barusco em relação ao dinheiro obtido em período que o PSDB ocupava o Palácio do Planalto. Graça chegou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara que apura irregularidades na Petrobras escoltada por pelo menos cinco deputados petistas.

A ex-presidente disse que "pode até aceitar" que a corrupção ficava apenas no nível de diretorias e que os presidentes, inclusive ela, não sabiam do esquema. "Mas eu não consigo imaginar que possa uma pessoa sozinha no meio da estrutura fazer alguma coisa isoladamente", afirmou. Também à CPI, Barusco confessou ter recebido propina da empresa holandesa SBM Offshore em 1997 ou 1998. De acordo com Barusco, o esquema de corrupção na estatal foi institucionalizado apenas por volta de 2003 - no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na sessão de ontem, o deputado Afonso Florence (PT-BA) aproveitou, para defender o aprofundamento das apurações em relação à fala de Barusco. "Tem que investigar quem ele quer proteger", afirmou. Para o relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ), a fala dela "converge com muitos membros da CPI". O partido tentou fazer com que a Comissão investigasse irregularidades ocorridas na estatal também no período do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A iniciativa não teve sucesso.

Deputados do PT e Graça estavam no corredor ao lado do plenário onde ocorreu o depoimento e entraram juntos quando ela foi chamada. O presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), preferiu não entrar na polêmica se a ex-dirigente havia sido orientada pelos parlamentares da sigla. "O PT quis acompanhar por ela ser um ex-membro do governo. [...] Não posso aqui estar tecendo comentários até porque não sei se o PT orientou".

Respondendo a perguntas de deputados, Graça sustentou que não sabia do pagamento de propinas em contratos da Petrobras e se declarou envergonhada com a atual situação da empresa e as afirmações dos delatores da Operação Lava-Jato, alguns ex-funcionários da estatal. "Eu tenho realmente um constrangimento muito grande de olhar para vocês, mas estou sendo sincera. Eu chego a admitir nos meus pensamentos que como tudo acontecia fora da Petrobras, nossos recursos internos não poderiam mapear isso a corrupção".

Mais uma vez questionando o depoimento de Barusco, Graça afirmou não poder caracterizar a corrupção na estatal era "sistêmica nem generalizada". "Tenho ouvido que [irregularidades] eram intensas até o ano de 2012. Depois disso é que esse suposto cartel se desfez", completou. Para ela, diante das denúncias, "quem perdeu duplamente - tanto do ponto de vista moral como do ponto de vista econômico - foi a Petrobras".

Exaltando sua carreira na Petrobras, a ex-presidente da estatal observou afirmou que, "mesmo com muita dificuldade", a empresa bateu recordes no ano passado, mas "fomos surpreendidos" pela Operação Lava-Jato. As investigações, segundo ela, já está trazendo e vai proporcionar "muitos aprendizados para a companhia". Graça frisou ainda que o atual presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, está trabalhando para publicar o balanço da empresa e "virar essa página".

Para ela, não é possível saber exatamente qual foi o valor dos recursos desviados da Petrobras. A estimativa de aproximadamente R$ 88 bilhões que foi apresentada como baixa contábil no balanço da empresa inclui outras falhas de gestão. "É um conjunto", frisou.

"A Petrobras merecia uma presidente mais eficiente que eu", disse Graça. "Não estou fazendo demagogia. Não acredito na governança perfeita". "No entanto", disse, "deixei um embrião": foi criada a diretoria de governança, risco e compliance.