Nos próximos dias, vai ficar claro se há qualquer expectativa realista sobre a permanência da Grécia na zona do euro. Depois de dois meses desperdiçados, o premiê Alexis Tsipras parece ter finalmente admitido que seu pedido de cheques em branco foi em vão.

Em duas reuniões sobre a crise na última semana, a premiê alemã, Angela Merkel, e outros líderes da zona do euro explicaram o motivo: a zona do euro é uma associação de 19 Estados soberanos governada por regras. Essas regras determinam que a Grécia não pode receber ajuda a menos que cumpra algumas condições - e a condição mais importante é que ela faça o que for necessário para restaurar a sua capacidade de se financiar nos mercados financeiros.

Como o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, tem ressaltado regularmente, a zona do euro simplesmente não pode trabalhar na base de credores permanentes e devedores permanentes. Os Parlamentos nacionais nunca concordarão com um sistema de transferências permanentes. Cada país deve se empenhar para se manter em pé sozinho.

Tsipras diz que o programa de resgate da Grécia fracassou. Mas o objetivo do programa não era garantir aos cidadãos da Grécia um certo padrão de vida; era restaurar o acesso da Grécia aos mercados. Nisso, o programa estava obtendo sucesso. O governo grego conseguiu, em 2014, emitir títulos, e os bancos gregos emitiram ações.

Com o acesso aos mercados veio a recuperação. Até Tsipras desencadear uma crise política que destruiu a confiança, a previsão era que a Grécia seria uma das economias de maior crescimento na Europa este ano, e o desemprego estava recuando.

Para que a Grécia permaneça na zona do euro, Tsipras deverá elaborar um programa de reformas que convença os outros países-membros de que ele está comprometido com a restauração do acesso aos mercados, e então eles liberarão os fundos de resgate. Ele tem só alguns dias para fazer isso direito.

O governo grego deve ficar sem dinheiro por volta de 9 de abril, quando terá de pagar € 420 milhões (US$ 460 milhões) ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Depois disso, as coisas podem sair do controle.

O governo terá dificuldade para pagar salários, aposentadorias e outras contas, o que seria desastroso para a economia e para a confiança no país. Se os cidadãos gregos continuarem sacando recursos de suas contas bancárias, o BCE poderá se recusar a fornecer mais euros, forçando Atenas a introduzir controles de capital.

O governo pode até ter de começar a emitir compromissos de dívida, efetivamente introduzindo uma moeda paralela, até chegar a um ponto em que seria quase inevitável retornar ao dracma, a moeda grega antes da adoção do euro.

Claro que ninguém quer isso. Tsipras pode contar com a zona do euro para que as coisas continuem funcionando o maior tempo possível. Ele não pode evitar os compromissos de reformas que assumiu em 20 de fevereiro como parte do acordo para estender o atual programa de resgate da Grécia. Mas, uma vez que o programa for aprovado e as primeiras reformas implementadas, as autoridades da zona do euro já sinalizaram que os recursos estarão disponíveis rapidamente para evitar o desastre.

O BCE também sinalizou que, uma vez que a Grécia mostre seu comprometimento, ele pode permitir que Atenas emita mais dívidas de curto prazo. E a Comissão Europeia (CE) está fornecendo apoio técnico e jurídico para a Grécia desbloquear € 2 bilhões em fundos estruturais que a o país nunca sacou, principalmente devido a deficiências na sua administração pública.

Mas o desafio de Tsipras vai muito além de simplesmente persuadir a zona do euro a manter a Grécia flutuando por mais tempo. O próprio governo grego deve permanecer dependente dos empréstimos da zona do euro por enquanto, provavelmente buscando um terceiro programa de resgate quando o atual vencer, no fim de junho. E, mesmo que Atenas não precise acessar o mercado para ela própria, precisará fazer isso para os bancos gregos, que provavelmente terão de captar recursos no fim deste ano para fechar os rombos abertos pela crise atual.

O volume de recursos dependerá dos detalhes do próximo acordo de resgate e se os credores da dívida pública grega serão forçados a assumir perdas. Também dependerá se o BCE, como o novo único supervisor bancário da zona do euro, continuará a permitir que os bancos permaneçam dependentes de créditos fiscais deferidos que representam cerca de metade de seu capital principal, situação que ridiculariza o objetivo de formar uma união bancária para romper o nefasto vínculo existente entre bancos e seus governos soberanos.

Ainda assim, Tsipras não deve contar com os € 10 bilhões restantes no fundo de resgate da Grécia para fechar qualquer rombo: pelas regras da União Europeia, dinheiro público pode só ser usado para recapitalizar bancos depois que outros credores, incluindo acionistas, detentores de títulos públicos e em alguns casos depositantes, participem da recapitalização.

Para evitar esse desfecho confuso, os bancos devem persuadir os investidores privados a desembolsar uma nova quantia substancial, um ano depois de terem colocado € 12 bilhões nos bancos gregos.

Isso não é impossível, mas apenas ocorrerá se Tsipras conseguir convencer os investidores que ele está comprometido a criar um ambiente em que os detentores de títulos bancários possam obter retornos atraentes.

No mínimo, isso significa corrigir o regime de insolvência para facilitar que os bancos reestruturem suas dívidas, pressionem empresas ruins a declarar falência e executem dívidas hipotecárias. Também envolve a criação de incentivos mais fortes para os devedores as pagarem suas dívidas.

Em outras palavras, Tsipras tem até o meio do ano - quando o BCE será obrigado a fazer uma avaliação de quanto capital os bancos precisam - para convencer os mercados de que ele está comprometido em transformar a Grécia em uma economia capitalista totalmente operacional.

Para um radical de esquerda que lidera um partido com comunistas, essa é uma missão difícil - alguns diriam impossível.