Título: De volta prá casa
Autor: Santana, Ana Elisa; Leite, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 16/07/2011, Brasil, p. 14

Regiões como a Nordeste, que perdiam seus habitantes para as mais promissoras, passam a receber os antigos moradores, segundo estudo do IBGE. O Distrito Federal se consolida como uma área de rotatividade migratória

O perfil do fluxo de migração dos brasileiros tem mudado nos últimos anos e começa a tomar formas antes incomuns no cenário nacional. Estados como Paraná e Rio Grande do Sul e a região Nordeste, tradicionais exportadores de pessoas para o Sudeste, começam a receber de volta sua população. Dentro desse contexto, o Distrito Federal, que acolheu imigrantes vindos de todas as partes do país durante a construção e o desenvolvimento de Brasília, passa a ser considerado uma área de rotatividade migratória: continua recebendo pessoas, mas também é uma região de onde muitos saem. As informações foram divulgadas na publicação Deslocamentos populacionais no Brasil, levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a partir do cruzamento de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2004 e 2009 com os Censos realizados em 2000 e 2010.

De 1995 a 2000, 3,3 milhões de pessoas deixaram suas cidades de origem. A emigração caiu para 2,8 milhões entre 1999 e 2004, e chegou a 2 milhões no período de 2004 a 2009. Os números, além de mostrarem uma menor movimentação pelo território nacional, incluem agora muitos que têm resolvido voltar para casa. De acordo com o pesquisador do IBGE Antônio Tadeu Oliveira, um dos organizadores do estudo, esse movimento era recorrente, de forma menos intensa, em meados dos anos 1980, devido a crises ou falta de oportunidades. No entanto, os motivos que provocam o retorno às origens atualmente são diferentes. "Agora, ele também está associado a uma mudança no mercado de trabalho. As pessoas pensam em ir, trabalhar um pouco e voltar. Não ficam 10, 20 anos no mesmo emprego", explica.

Diferentemente ao que ocorreu entre as décadas de 1960 e 1980, quando houve uma corrida à Região Sudeste em busca de oportunidades de emprego, estados como São Paulo e Rio de Janeiro hoje não são as metrópoles que mais atraem novos moradores. Na última década, houve aumento mais expressivo nas cidades com menos de 500 mil habitantes, de acordo com o estudo.

O fenômeno se dá pelo desenvolvimento tanto de indústrias quanto de serviços, segundo Oliveira. "A população vai modelando estratégias de sobrevivência. Como está havendo oportunidades mais perto, as pessoas tendem a migrar menos porque o risco é menor. Vão para um lugar mais perto, a capital do estado, um estado limite", diz o pesquisador do IBGE.

No Entorno A capital do país continua sendo atrativa para brasileiros que buscam uma oportunidade de trabalho ou de estudo, mas o alto custo de vida faz com que muitos dos imigrantes, como a paraibana Celda Maria Barbosa Soares, 33 anos, não consigam se manter e se desloquem para cidades de Goiás, apesar de continuarem trabalhando por aqui.

A vendedora nascida no município de Cajazeiras, cidade a 500km de Fortaleza, veio para o DF amparada pela presença de irmãos mais velhos na região, que saíram do interior em busca de melhores condições de vida. Ela seguiu o mesmo caminho de outros membros da família e, atualmente, mora com parentes no Novo Gama.

Alguns dos 14 irmãos conseguiram se unir em uma mesma casa há cinco anos, quando tiveram condições de juntar dinheiro para comprar o imóvel. Antes, Celda morava no Gama, mas a mudança para a cidade vizinha com os pais e os irmãos foi necessária em função de diferença de valores dos imóveis.

"Não tínhamos nenhuma condição de comprar um lote no Distrito Federal. Por isso, no mudamos para Goiás. Mas a nossa vida continua em Brasília porque trabalhamos no Plano Piloto. Vou continuar lutando para ver se consigo fazer uma faculdade e comprar outra casa aqui", planeja.

Casos como o da moradora do Novo Gama são comuns no DF, de acordo com Júlio Miragaya, diretor de Gestão de Informações da Companhia do Desenvolvimento do Planalto Central (Codeplan). "Brasília oferece oportunidade até para os informais. A área metropolitana cresce não por uma opção, mas por ser a alternativa que as pessoas têm de ficar perto do DF. O objetivo das pessoas é o trabalho que Brasília proporciona, mas, pelo custo de moradia, elas acabam se deslocando para municípios periféricos", diz.