Um dia depois de ser denunciado pelo Ministério Público, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o partido da presidente Dilma Rousseff voltaram a ser alvo de denúncias. Ontem, o vice-presidente da Engevix, Gérson Almada, disse à 13ªVara Federal de Curitiba que a legenda recebia doações a partir de contratos superfaturados entre 0,5% e 1% na Petrobras. O vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite, já havia dito que Vaccari o tinha procurado para obter doações oficiais com origem em corrupção na petroleira.

Com base nas novas revelações, a oposição subiu o tom contra Dilma. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse que há “tácita conivência dos governos que nomearam, por intermédio do Conselho de Administração, diretores ligados a esquemas de financiamento partidário, tal como se está vendo com base nos dados levantados pela Operação Lava-Jato”. Ele se defendia da avaliação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), segundo a qual um decreto criado pelo tucano para dispensar licitação na Petrobras “abriu as portas da corrupção” na empresa, endossando análise frequente do Tribunal de Contas da União (TCU). “Não se imaginava que houvesse a frouxidão de critérios que aconteceu posteriormente nos governos petistas”, disse FHC, em nota.

Para tentar abrir uma investigação contra Dilma, partidos de oposição vão insistir no pedido de apuração sobre as condutas da presidente. Eles pretendem se reunir hoje com o relator da Lava- Jato no Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki. Na semana passada, o deputado Raul Jungmann, do PPS de Pernambuco, ajuizou um recurso questionando a decisão de não abrir investigação apesar das declarações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. O requerimento foi arquivado ontem por Teori, mas o partido vai recorrer.

O ex-diretor da Petrobras diz que foi procurado pelo doleiro Alberto Youssef para que fossem pagos R$ 2 milhões à campanha de Dilma em 2010 com dinheiro do esquema de corrupção na petroleira. Mas o doleiro negou. Não foi aberta investigação contra Dilma, porque o Ministério Público avaliou que a Constituição impede a chefe de Estado de ser processada por fatos sem relação ao mandato. Teori concordou.

O presidente do PSDB, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), deve liderar o grupo no encontro comTeori.“Não há ninguém imune a qualquer tipo de investigação”, disse o tucano ontem. O vice- líder do PPS na Câmara, Raul Jungmann, disse que “toda a oposição hoje está alinhada com as manifestações e com a sociedade brasileira”. Teori entendeu que o pedido do PPS não indicava um representante legal e era apócrifo.

Paulo Roberto Costa disse que o suposto pedido de Youssef era para repassar os R$ 2 milhões ao ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci. Apesar da avaliação de que a Constituição não permite que o presidente da República seja investigado por ato não relacionado ao mandato, o Ministério Público pediu que a apuração contra Palocci fosse feita na 13ª Vara Federal de Curitiba. Teori acatou. Mas o PPS entende que a investigação deve ser feita para que, no futuro, quando não tiver mais mandato, Dilma eventualmente seja processada criminalmente.

Passaporte

A deputada Eliziane Gama (PPS-MA), da CPI da Petrobras, pedirá hoje ao Ministério Público que os procuradores requisitem à Justiça o bloqueio de bens e a apreensão do passaporte de João Vaccari Netto. O tesoureiro do PT foi denunciado, na segunda-feira, à Justiça por lavagem de dinheiro e corrupção. “Existem indícios veementes para a decretação de sequestro de bens adquiridos pelos denunciados com os proventos da infração penal”, diz a deputada.

O deputado Carlos Zaratini (PT-SP) avalia que essa é mais uma tentativa de tirar Dilma do governo. “É evidente que o PSDB está numa escalada golpista. Eles pretendem que haja o terceiro turno. Querem impedir Dilma de governar. Perderam as eleições e querem sempre um fato para contestar, como questionaram o resultado das eleições, as contas da presidente.”