Mais de um terço da receita bruta da consultoria do ex-ministro José Dirceu vêm de empresas investigadas na Operação Lava-Jato. É o que mostra levantamento do Correio baseado em dados da Receita Federal, que analisou as movimentações financeiras da JD Consultoria entre 2006 e 2013, quando ele já estava fora do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. No período, a empresa faturou R$ 29,25 milhões — uma média de R$ 3,65 milhões anuais.

Desse valor, 35% ou R$ 10,18 milhões vieram de oito empresas investigadas pela Lava-Jato. A consultoria do ex-ministro é alvo de inquérito porque as empreiteiras são acusadas de lavar dinheiro desviado da Petrobras por meio de serviços fictícios de consultores. Ontem, o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, disse que ainda é “prematuro” para saber se os pagamentos a Dirceu foram lícitos ou irregulares.

A Construtora OAS pagou R$ 2,99 milhões à JD Consultoria, pelo que se extrai do relatório de pesquisa e investigação (Ipei) PR-2015-0002, de 20 de janeiro. Em segundo lugar ficou a UTC Engenharia, com R$ 2,31 milhões. Ela é seguida da Jamp Engenheiros, do operador do estaleiro ERG Milton Pascovich; da Engevix, com R$ 1,1 milhão; da Camargo Corrêa, com R$ 900 mil; da Queiroz Galvão, com R$ 750 mil; da Egesa, com R$ 480 mil; e da Delta Engenharia e Montagem Industrial, com R$ 80 mil.

A reportagem não localizou a assessoria de José Dirceu. Mas em nota ao Jornal Nacional, seus auxiliares disseram que 85% do dinheiro recebido foram gastos com despesas e impostos. No período, o ex-ministro atendeu cerca de 60 clientes de 20 setores econômicos. Ontem, Moro retirou o sigilo do inquérito. O ex-ministro promete ir à Justiça para reverter a quebra de sigilo da empresa.

Análises

A força-tarefa do Ministério Público pediu que a defesa de Dirceu forneça contratos e notas fiscais que comprovem se os serviços foram realmente prestados. A papelada foi entregue na semana passada. No contrato com a Camargo Corrêa, assinado em 2010, o acordo é pagar R$ 75 mil mensais à empresa de Dirceu. Em troca, o exministro forneceria diversos serviços, entre eles fazer “análise dos aspectos sociológicos e políticos do Brasil”, prestar “assessoria na integração dos países da América do Sul” e fazer “divulgação do nome da contratante dentro da comunidade internacional”.

Num contrato com a OAS assinado em 2006, o trato é o pagamento de R$ 720 mil em 24 parcelas. Os serviços são variados. Entre eles, incluem-se prestar consultoria jurídica e ajudar a empreiteira a elaborar estratégias industriais e comerciais, organizar palestras e seminários, participar de mesas de negociação, fazer estudos de viabilidade jurídica em negócios nacionais e internacionais e ajudar advogados da construtora a produzir minutas, contratos e petições.