O projeto da Petrobrás de construção de 28 sondas de perfuração em águas ultraprofundas, entregue à Sete Brasil, vai sofrer uma redução brusca. A decisão sobre o tamanho do corte no portfólio ainda não foi fechada, mas o 'Broadcast', serviço em tempo real da 'Agência Estado', apurou que deve atingir quase metade da encomenda original.

 

Criada para ser a proprietária das plataformas flutuantes de perfuração do pré-sal e a maior fretadora mundial de sondas até 2020, a Sete Brasil, que tem a Petrobrás como acionista minoritária, negocia com o BNDES a liberação de um crédito aprovado em 2013.

 

A Sete Brasil foi envolvida no escândalo da Lava Jato pelo ex-gerente de Engenharia da Petrobrás, Pedro Barusco, que revelou, em acordo de delação premiada, suposto esquema de corrupção envolvendo a empresa. Desde então, a Sete tem dificuldade em obter empréstimos. Barusco participou da criação da empresa e chegou a ocupar uma diretoria.

 

Governo. Há, no governo, segundo apurou o Broadcast, um forte interesse em destravar essas amarras. Estão sendo avaliados mecanismos de blindagem e cláusulas de salvaguarda para facilitar o financiamento. Na segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff recebeu no Palácio da Alvorada os presidentes do BNDES, Luciano Coutinho; da Petrobrás, Aldemir Bendine; e do Banco do Brasil, Alexandre Abreu. O empréstimo para a Sete foi um dos temas da pauta.

Não era esperada tanta dificuldade para financiar o projeto de construção das sondas. Cerca de 80% dos mais de US$ 25 bilhões necessários para viabilizar a construção de 29 sondas (28 das quais alugadas à Petrobrás) são oriundos principalmente desses financiamentos.

 

A Sete dividiu a construção das sondas em três grupos. O financiamento que está sendo barrado pela equipe técnica do BNDES refere-se ao primeiro lote, de nove sondas, inicialmente previstas para serem entregues em 2015 e 2016. O BNDES ficaria responsável por mais de US$ 3 bilhões, a Caixa, por US$ 1,5 bilhão e o banco britânico UK Export Finance, por US$ 220 milhões.

 

O segundo grupo tem 12 sondas e previsão de entrega para 2017 e 2018. Pelo projeto, o BNDES tem de desembolsar mais US$ 5 bilhões, o UK Export Finance mais US$ 580 milhões e mais US$ 1 bilhão de duas instituições norueguesas. 

 

Juntando as duas etapas, o BNDES deve financiar a Sete Brasil em mais de US$ 8 bilhões. Com a redução no total de equipamentos, o valor poderá cair. A área técnica do BNDES quer blindar as operações para que não haja contestação por órgãos de controle, como o Tribunal de Contas da União (TCU), ou até pelo Congresso, em meio à CPI que apura corrupção na Petrobrás. 

 

O terceiro grupo, com oito sondas para entrega em 2019-2020, deve ser financiado em R$ 10,3 bilhões pelo Fundo de Marinha Mercante (FMM). 

 

Mudanças. Entre as alternativas avaliadas para tentar solucionar o problema, é cogitada a mudança societária da Sete Brasil. Seria uma forma de fortalecer a empresa. Mas a possibilidade é remota, por não haver investidores interessados em entrar na empresa neste momento. Dependendo do atraso na liberação do financiamento do BNDES, o projeto fica inviável. O valor da multa pelo atraso pode acabar comprometendo a margem de lucro, afirmou uma fonte a par das negociações. 

 

A Petrobrás tem 5% da Sete, além da participação indireta no fundo que detém os outros 95% da companhia, em sociedade com os fundos de pensão Petros, Funcef, Previ e Valia, os bancos BTG Pactual, Santander e Bradesco, o FI-FGTS, o fundo EIG e Strong e os investidores Luce Drilling e Lakeshore Partners.

 

Além da dificuldade de financiar a construção das sondas, a Sete Brasil sofre as consequências do corte de investimentos da Petrobrás, única cliente da fornecedora. Como o Estado revelou nesta semana, a estatal pode cortar entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões nos investimentos previstos para este ano.

 

Investigações policiais e interferência política à parte, uma conjunção de outros fatores atingiram a Petrobrás e a Sete. Os principais são a queda de 45% no preço internacional do petróleo em um ano e a forte concorrência da produção de petróleo de gás de xisto pelos EUA, com custo de produção bem inferior ao do pré-sal.

 

Procurada, a Sete disse que trabalha para concluir a contratação de linha de crédito de longo prazo com o BNDES. O banco fixou algumas exigências, entre as quais uma fiança bancária de US$ 1,5 bilhão, que a empresa não tem como cumprir. 

 

A Sete afirmou que o plano de financiamento do negócio prevê desde a concepção, além de injeção de capital dos acionistas, até a obtenção das linhas de crédito. Ao todo, é um investimento de US$ 26,4 bilhões, com previsão de retorno de US$ 89 bilhões em 15 anos.

 

"A atual direção da Sete Brasil acredita e afirma categoricamente que o projeto de construção das 29 sondas representa um fundamental marco para a indústria naval nacional e para o desenvolvimento do País e este projeto será mantido", afirmou a empresa, por meio de nota. A companhia acrescentou que o projeto é "imprescindível" para a retenção de tecnologia no Brasil.

 

Schahin Petróleo e Gás precisa de US$ 1 bilhão

 

A empresa de óleo e gás do grupo Schahin, que tem como maior cliente a Petrobras, enfrenta dificuldades com seu endividamento. O descasamento entre o caixa e o que precisa pagar a credores este ano é de quase US$ 1 bilhão, segundo documento elaborado a pedido da própria Schahin pela consultoria Valuation, apresentado a credores do grupo e que se tornou público em um processo judicial movido pelo Deutsche Bank.

 

O documento da consultoria foi produzido no final de 2014 e fazia uma série de propostas para reestruturar as companhias do grupo Schahin, de forma conjunta para que uma não contaminasse a outra. Na área de óleo e gás, seria preciso que em fevereiro tivesse ocorrido uma emissão do que a consultoria chamou de "bônus corporativos" no total de US$ 950 milhões. As informações são de que a emissão não foi feita.

 

Os problemas na Schahin Petróleo e Gás são os mais evidentes, mas as dificuldades financeiras se estendem à holding e também às atividades de engenharia e construções imobiliárias da família Schahin. Em 2014, o déficit operacional dessas atividades foi de R$ 40 milhões. Em fevereiro deste ano, uma empresa de vigilância chegou a pedir a falência da Schahin Engenharia na Justiça por uma dívida de R$ 322 mil. 

"Embora a atividade no médio prazo se mostre rentável, com a reestruturação proposta, não vemos viabilidade de levantar recursos necessários via agentes financeiros no curto prazo", diz o relatório da Valuation.

 

O problema da Schahin para levantar recursos é o mesmo das construtoras que de alguma forma foram envolvidas ou citadas na Operação Lava Jato: o mercado bancário de crédito se fechou para elas. A Schahin não chegou a ter nenhum executivo preso, mas apareceu em reportagens que citavam depoimentos de delação premiada. Também faz parte da lista das 23 empresas acusadas de formação de cartel pela Petrobras, que foram suspensas da lista de novos negócios da estatal.

 

Se de um lado as operações de engenharia e construção já ficaram deficitárias em 2014, de outro é o negócio de óleo e gás, que esteve no azul no ano passado, o que mais preocupa agora. O grupo tem contratos bilionários com a Petrobras para operar navios sondas e plataformas. Mas sua dívida no mercado internacional soma US$ 4 bilhões. E, apesar de ter receitas garantidas pelos contratos que possui, pode não ter recursos para pagar a dívida que vence neste ano. Segundo a Valuation, mesmo que consiga alongar o prazo da dívida para casar com as receitas, a empresa precisa de novo financiamento.

 

Cobrança

 

Foi diante deste cenário que o Deutsche Bank decidiu em janeiro cobrar judicialmente uma dívida de US$ 15 milhões da Schahin Petróleo e Gás, que deveria ter sido paga no ano passado. Um dos motivos apresentados pelo Deutsche para executar a divida foi justamente o relatório da Valuation que aponta as dificuldades financeiras do grupo.

 

A maior rolagem de dívida precisa ser feita este ano com o banco Mizuho, de US$ 460 milhões que vencem em outubro, segundo a agência de classificação de risco Fitch. Pelas informações de mercado, nenhum bônus foi emitido e alguns credores dizem que a empresa pode estar caminhando para uma recuperação judicial. Procurada, a Schahin não quis fazer comentários e disse apenas que o relatório da Valuation estaria protegido pelo sigilo entre credores e o grupo, e que tomaria medidas contra quem o tornasse público. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.