NOVO PANELAƇO NAS CAPITAIS

A noite de segunda-feira foi de panelaço contra a presidente Dilma Rousseff. Oito dias depois de pessoas baterem utensílios domésticos em janelas e varandas no momento em que a petista fazia um pronunciamento em cadeia de rádio e tevê, houve novo ato de desaprovação ao governo. Em Brasília, repórteres fotográficos do Correio flagraram panelaço, buzinaço e apitaço em prédios na Quadra 101 de Águas Claras, na SQSW 303, nas proximidades do Parque da Cidade e na SQS 206. Em outras capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Recife, houve mobilizações semelhantes.

O panelaço de ontem ocorreu no momento em que o Jornal Nacional transmitia as declarações de Dilma Rousseff sobre as manifestações de domingo (leia mais na página 5), que levaram 1,5 milhão de pessoas às ruas do país. Apesar de a origem da mobilização ser a mesma — insatisfação com o atual governo e a escalada da corrução —, especialistas apontam diferenças entre o panelaço e os atos nas ruas. “Acredito que quem participa desse protesto em específico (panelaço) são pessoas que não estão acostumadas a passar fome e frio em manifestações. Em parte, o descontentamento é porque veem seu status social ameaçado, mas não creio que seja uma manifestação duradoura”, afirma Renato Janine, professor de ética e filosofia da Universidade de São Paulo (USP).

A opinião é compartilhada por Emerson Cervi, professor de ciência política da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Panelaços são eventos midiáticos, e não políticos. Representam uma insatisfação muito segmentada e posicionada geográfica e socialmente, da população mais rica das grandes cidades”, diz, acrescentando que também não acredita na duração dessa forma de protesto.

Isso não significa que a mobilização nas ruas esteja fadada a desaparecer rapidamente. “Vivemos um tempo de mobilização que se iniciou em junho de 2013, quando a população viu que o protesto muda a resposta política. É possível que, se não houver reação rápida, os atos continuem tomando fôlego”, alerta Cervi. Especialmente porque, na opinião do professor, as explicações do governo, até agora, não foram satisfatórias. “O governo se equivocou ao colocar apenas o pacote de combate à corrupção como a principal resposta às demandas populares”, avalia Cervi.

Para o professor, a comunicação é, agora, o principal recurso do Planalto para diminuir o clamor popular. “É preciso mostrar o que se está fazendo, por exemplo, para resolver a crise econômica. A presidente precisa admitir os erros cometidos e propor soluções.”

Próximo evento

A adesão aos protestos animou os grupos que organizaram os atos pelas redes sociais. O Movimento Brasil Livre, por exemplo, já convoca a população para nova mobilização, em 12 de abril, e fala em dobrar a quantidade de pessoas que foram às ruas em São Paulo no domingo, cerca de 1 milhão, segundo a Polícia Militar.