Depoimentos em delações premiadas, uma apreensão de dinheiro, uma acusação anônima e doações de campanha são os indícios que fazem a Procuradoria-Geral da República (PGR) suspeitar que o senador Benedito Lira (PP-AL) e o deputado Arthur Lira (PP-AL), seu filho, tenham recebido propinas. “Haveria irregularidades na Companhia de Trens Urbanos (CBTU), vinculada ao Ministério das Cidades, com o provável recebimento de valores pelos parlamentares Benedito de Lira e Arthur de Lira”, resumiu o procurador geral da República,Rodrigo Janot.

Os parlamentares negam as acusações. “Meu pai nunca recebeu nenhuma doação ilícita”, protestou o deputado, em entrevista ao Correio em que refutou as acusações do Ministério Público. O doleiro Alberto Youssef disse em delação premiada que o presidente da CBTU, Francisco Colombo, seguia as orientações dos dois parlamentares, pois o senador é quem “detinha o cargo”. Ele afirmou à Polícia Federal que Colombo, hoje falecido, relatou ter repassado R$ 100 mil em dinheiro vivo a um assessor do deputado Arthur, que acabou sendo preso depois no Aeroporto de Congonhas.

Jaymerson de Amorim foi detido em fevereiro de 2012 com R$ 106,4 mil. A passagem foi custeada pelo deputado, alvo de outro inquérito no STF, que apura se Arthur Lira cometeu corrupção e lavagem de dinheiro. Um inquérito civil sigiloso da PGR narra “irregularidades relacionadas aos fatos”, segundo Janot. Em outro inquérito, a procuradoria apura a denúncia do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Ele afirmou que Benedito Lira pediu R$ 1 milhão para sua campanha ao Senado em 2010. Na agenda do ex-diretor, consta a anotação “1,0 BL”, uma referência ao parlamentar, segundo o delator. Paulo Roberto disse que Youssef confirmou o repasse, que saiu do caixa de propinas do PP na Petrobras.

O doleiro confirmou as declarações e disse que intermediou a doação de R$ 400 mil da UTC para a campanha de Benedito, registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Youssef disse que conseguiu mais recursos para os Lira. “O valor total de recursos que o declarante providenciou em favor das campanhas de Benedito e Arthur, no ano de 2010, foi em torno de R$ 1,5 milhão”, disse o delator. A PGR localizou no TSE R$ 1,37 milhão em doações diretas ao senador, por meio da UTC.

No ataque

Arthur Lira nega as acusações contra ele e seu pai. Segundo ele, a palavra dos delatores, criminosos confessos, não merece crédito. O deputado chamou Youssef de “réu confesso reincidente”. E criticou o procurador-geral da RepúblicaRodrigo Janot. “Muita gente teve tratamento diferenciado com relação a uns e outros”, disse Lira. “Eu refuto essas ilações”.O parlamentar disse que a indicação para presidente da CBTU não era deles, mas do PP, e que é fácil Youssef creditar uma acusação de propina a uma pessoa já morta. Ele disse que Jaymerson é o único responsável pelos R$ 106 mil apreendidos. “Se tem problema, tem que mudar o modus operandi da doação. Você não pode criminalizar a doação. Não pode fazer dela meio de prova.”