Levantamento feito pelo Correio junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indica a existência de pelo menos 50 futuros partidos em fase de coleta de assinaturas no país. Pelos nomes escolhidos, supõe-se que a maioria deles se encaixe na definição de catch-all party, isto é, sem corte ideológico definido. Outros são patrocinados por medalhões da política brasileira, como a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, ou o Partido Liberal (PL), patrocinado por Gilberto Kassab. Há ainda quem aposte no espaço aberto pelas legendas tradicionais no chamado voto de opinião, capitalizando os eleitores desiludidos com o pouco compromisso programático dos grandes partidos brasileiros.

À esquerda, a mais recente novidade foi o lançamento, na última sexta-feira, do partido-movimento intitulado Raiz Movimento Cidadanista. A iniciativa é capitaneada por figuras dissidentes da Rede Sustentabilidade, como a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) e o ativista Célio Turino que chegou a ser secretário do Ministério da Cultura durante as gestões de Gilberto Gil e Juca Ferreira , com origem no PCdoB. Somos os 99%. E estamos indignados, diz um trecho da Carta Cidadanista, manifesto de fundação do novo partido. As inspirações estão no Podemos espanhol e no Syriza grego. A iniciativa reúne militantes do PT, do PSB, do PCdoB e do PSol, além dos dissidentes da Rede Sustentabilidade. Na outra ponta do espectro ideológico, articulam-se legendas como os Libertários, o Novo e até a Nova Aliança Renovadora Nacional (Arena), inspirada no partido de sustentação do regime militar. Desde 2012, também se organiza e a versão brasileira do Partido Pirata, de origem sueca. 

Fundador e primeiro presidente do Libertários, o publicitário mineiro Juliano Torres, de 26 anos, admite que ainda vai demorar muito tempo para que o partido seja formalizado. O Liber é um partido libertário, com o objetivo de difundir os preceitos liberais no meio político brasileiro. O Novo tem um foco em representar a sociedade numa forma de coalizão, avalia. O Liber começou a se organizar em 2006, na internet. Criou-se a imagem de que liberal só defende reduzir o tamanho do estado e cortar impostos, mas nos preocupamos com violência policial, drogas, armas, imigração etc, diz. 

Representatividade 

Coordenador do Piratas para o Centro-Oeste, o estudante João Paulo Passos, de 22 anos, diz acreditar que há espaço para legendas ideológicas. Partidos com bandeiras claras e definidas, acredito que podem ajudar nesse cenário. Entretanto, mesmo sendo um partido que segue uma ideologia pirata, não nos consideramos um partido de nicho, diz ele. Os piratas brasileiros estão preocupados com questões como direitos dos animais e defesa dos direitos de mulheres, negros e homossexuais. 

 Para o cientista político Ricardo Caldas, o momento é propício para melhorar a representatividade dos partidos. No Brasil, ao contrário do que ocorre nos EUA, o sistema eleitoral cria partidos de baixa representatividade, diz ele. Este ano, estaremos discutindo reforma política e isso, na minha opinião, é mais importante do que importar partidos. Para mim, há um tanto de modismo nessas propostas, criticou.