Abaixa prioridade atribuída pelo governo à política externa e a quase paralisia da ação diplomática brasileira nos últimos anos têm afetado o interesse nacional em várias frentes. O exemplo mais recente, e talvez mais grave, ocorre no relacionamento com a Argentina.

Do ponto de vista comercial, o bloqueio na prática está atingindo todas as exportações brasileiras. Os resultados dessa atitude passiva estão se mostrando duramente contrários não só aos interesses econômicos e comerciais brasileiros, mas agora também na área estratégica e de defesa, em virtude de crescente cooperação entre a Argentina e a China.

Em visita recente a Pequim, a presidente Cristina Kirchner assinou cerca de 15 acordos, com forte impacto sobre os interesses brasileiros. Dentre os acordos assinados, um tratado na área de defesa e cooperação espacial prevê a construção pela China de uma base espacial na província de Neuquén.

A base, que foi estabelecida no marco do programa chinês de exploração da Lua, representará uma inversão direta de cerca de US$ 300 milhões e estará em funcionamento em 2016. Segundo admitiram as autoridades argentinas, a base tem por objetivo “realizar tarefas de monitoramento, controle e coleta de dados no marco do programa chinês de missões para a exploração da Lua e do espaço”. Fontes militares argentinas qualificadas manifestaram preocupação pelo eventual uso militar da estação chinesa em território argentino. A tecnologia sensível, de uso dual, poderá ser utilizada para o seguimento da atividade aeroespacial e de mísseis.

Na medida em que a situação econômica de los hermanos se deteriorava pela desvairada política kirchnerista, medidas protecionistas ilegais e contrárias à letra e ao espírito do Mercosul e da OMC passaram a restringir a entrada dos produtos brasileiros. A reação do governo petista aos reclamos dos exportadores brasileiros, ao contrário da OMC, que acaba de condenar a Argentina e a exigir que as barreiras sejam desmontadas, foi aceitar passivamente tudo o que estava sendo feito contra nossos produtos e pedir “paciência estratégica” para ajudar a recuperação econômica de nossos vizinhos.

O ministro Mauro Vieira esteve há duas semanas em Buenos Aires e se reuniu com os ministros da área econômica. Espera-se que o Brasil adote uma atitude mais firme na defesa dos interesses dos exportadores brasileiros e do destravamento do Mercosul — o Brasil ocupa a presidência do grupo — para avançar em uma nova agenda de acordos comerciais, em especial com a União Europeia.

Como até o momento não houve nenhuma palavra do governo brasileiro, a opinião pública nacional aguarda uma manifestação oficial sobre a instalação da base espacial em Neuquén. Nem sempre é fácil definir o interesse nacional. No caso da Argentina, nesses exemplos concretos, fica claro como políticas e percepções equivocadas por influência ideológica podem prejudicá-lo.

Com a palavra, o Itamaraty, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e a Defesa.

Rubens Barbosa é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp