Com o andamento das apurações revelando um empate nas eleições legislativas em Israel, tanto o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu quanto o desafiante Isaac Herzog se dirigiram aos correligionários, na madrugada de ontem, para festejar vitória e anunciar a disposição de encabeçar o próximo governo. Contra todas as expectativas, conquistamos uma grande vitória, proclamou Bibi Netanyahu aos eleitores do direitista Likud. Vou fazer o possível para formar um verdadeiro governo social em Israel, foi o discurso de Herzog, líder dos trabalhistas e da coalizão de centro-esquerda União Sionista. Projeções iniciais indicavam que cada uma das duas principais legendas teria 27 cadeiras na Knesset (parlamento), embora o Likud pudesse chegar a 28. As demais vagas, de um total de 120, ficaram divididas entre uma dezena de formações, com destaque para uma coligação de partidos árabes-israelenses que despontava como a terceira força política. 

Em meio às primeiras articulações para a composição de uma maioria, o presidente Reuven Rivlin tentou amenizar a divisão política e a fragmentação do parlamento. Estou convencido de que apenas um governo de união nacional pode prevenir uma rápida desintegração da democracia de Israel e novas eleições em um futuro próximo, declarou. Rivlin, que tem a prerrogativa de indicar o premiê, sugeriu uma coalizão entre o Likud e a União Sionista hipótese rejeitada por Bibi, de início, mas não descartada por Herzog. 

A perspectiva da permanência do atual premiê à frente de um governo mais conservador, em aliança por setores mais à direita, gerou reações imediatas de líderes palestinos. O negociador-chefe da Autoridade Palestin (AP), Saeb Erakat, disse que intensificará os esforços diplomáticos para processar líderes israelenses no Tribunal Penal Internacional (TPI). Está claro que Netanyahu formará o próximo governo e, por isso, dizemos claramente que vamos à Corte de Haia, anunciou. Para o negociador, a declaração feita pelo premiê na véspera da votação, afirmando que não haverá Estado palestino enquanto ele encabeçar o governo, deve motivar a pressão internacional a favor da causa palestina. 

A ideia de um governo que una Netanyahu e Herzog, embora desagrade a ambos partidos, pode se impor como saída para o resultado das urnas. É possível que haja uma união, porque interessaria aos dois. De um lado, um partido (o trabalhista) que não chega ao poder desde 2000. Do outro, um partido desgastado (o Likud) que tem perdido apoio e cadeiras nos últimos anos, analisa o coordenador do Núcleo de Estudos Judaicos (Niej)da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Michel Gherman. Ao jornal Haaretz, um dirigente do Likud admitiu que o premiê será capaz de trabalhar com Herzog, se necessário. Ele não quer um governo de união, mas às vezes você fica sem escolha. 

Coalizão 
Por afinidade política, Bibi deve ter apoio dem legendas religiosas e conservadoras. É esperado que se junte a ele o Habayit Hayehudi, do conservador Naftali Bennett, com prováveis oito deputados. O Yisrael Beitenu, do chanceler Avigdor Lieberman, terá em torno de cinco cadeiras, enquanto o ultraortodoxo Shas deve ter sete, e o Yashad, 4. Herzog pode deve contar com possíveis 12 cadeiras do centrista Yesh Atid, do carismático e moderado Yair Lapid. Somados aos cinco parlamentares projetados para o social-democrata Meretz, eles dariam ao líder da União Sionista 44 votos na Knesset, ainda longe da maioria de 61. A opção para o bloco de centro-esquerda seria o apoio da Lista Conjunta Árabe, que surpreendeu e deve conquistar 13 assentos. O líder da coligação, Ayman Odeh, prometeu empenho para evitar que Netanyahu permaneça no poder. 

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Ora, os palestinos 

Se uma coisa parece certa, com o resultado das urnas em Israel, é que a solução de dois Estados, com a Palestina convivendo ao lado do Estado judeu, fica um tanto mais distante. Nem tanto pelo que disse às vésperas do pleito o premiê Benjamin Netanyahu, forte candidato a chefiar o governo pela quarta vez. A composição da nova Knesset indica pouca ou nenhuma margem para qualquer passo significativo na direção da retomada do processo de paz, seja qual for o arranjo para composição de uma maioria. 

A perspectiva de uma coalizão entre o Likud, de Netanyahu, e o bloco de centro-esquerda União Sionista desponta, nesse quadro, como reedição empobrecida dos governos de união nacional que antecederam a primeira intifada, no fim dos anos 1990. Àquela altura, o levante nos territórios palestinos foi capaz de romper o impasse e abrir caminho para os Acordos de Oslo, em 1993, com Israel sob governo trabalhista. 

Hoje, os dois partidos tradicionais não reúnem, somados, sequer metade do parlamento. A outra metade das cadeiras se distribui entre mais de 10 legendas ultranacionalistas religiosos, representantes dos colonos radicados em terra palestina, centristas de diferentes matizes e até uma bancada árabe que se projeta como a terceira maior da Knesset. 

Nesse mosaico, se existe um mínimo consenso, é o de que a questão existencial para Israel já não é um vizinho incômodo. É o espectro do Irã que se coloca no centro da agenda política.Mais até do que a presença do Estado Islâmico na Síria, o risco de ver o regime dos aiatolás dotado de poder atômico pautou a campanha eleitoral e tende a encabeçar a lista de prioridades do próximo gabinete.