O novo ministro da Defesa, Jaques Wagner, afirmou ontem que assume o cargo sem "uma lanterna na mão para o passado". Ele destacou que o seu trabalho será focado no presente, destacando a necessidade de valorizar as Forças Armadas brasileiras. Em relação às recomendações da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que pede o reconhecimento explícito das Forças Armadas sobre suas responsabilidades por violações de direitos humanos durante a ditadura (1964-1985), Wagner foi mais evasivo: disse apenas que as recomendações serão processadas internamente no ministério.

- Eu não vim aqui com nenhuma lanterna na mão para o passado. Eu vim aqui olhando para a frente, tem o submarino (nuclear), tem os caças, tem os satélites: 99,9% da minha função é fazer com que se valorizem as Forças Armadas - disse Wagner, em entrevista após a cerimônia de transmissão do cargo.

Questionado se as Forças Armadas devem pedir desculpas e reconhecer sua responsabilidade sobre o que aconteceu na ditadura, ele respondeu:

- As recomendações que foram feitas pela Comissão da Verdade serão processadas internamente pelo Ministério da Defesa. Eu disse que vou me empenhar. Ultrapassamos aquele momento. Estamos há 50 anos do fato, e não há por que a gente ficar colocando nenhum tipo de obstáculo ao que a gente tem pela frente para o Brasil. Então elas serão processadas. Eu digo que a verdade e a transparência não machucam ninguém.

Sobre a possibilidade de uma revisão da Lei da Anistia, de 1979 (o STF, em 2010, posicionou-se contra a revisão da lei, por sete votos a dois), Wagner disse:

- Estou chegando agora e vou estudar essa questão. Evidentemente, essa será uma decisão de governo, e não uma decisão da Defesa.

Wagner disse acreditar nas convicções democráticas dos militares:

- Não acredito que hoje, na cabeça de nenhum militar, esteja presente que a ruptura da democracia possa mudar o desenvolvimento do nosso país. Os militares têm por missão a defesa do país. E, ao defender o país, defendem a democracia.

Cotado para ministérios mais importantes, Wagner acabou se tornando ministro da Defesa. Mas, segundo o próprio, isso foi uma opção dele.

- Pela vitória nossa na eleição do sucessor (Rui Costa, que o sucedeu no governo da Bahia), meu nome viajou por todos os ministérios: Fazenda, Indústria e Comércio, Planejamento, Casa Civil. E, no meu primeiro diálogo com a presidenta da República, eu disse a ela que tinha muito apreço em ser designado para o Ministério da Defesa. Então muita gente se surpreendeu: "Mas, com esse patrimônio político!". Eu digo: acho que patrimônio político deve ser emprestado ao Brasil. O patrimônio político emprestado ao comando do Ministério da Defesa com certeza é para cada vez mais cicatrizar as feridas que ainda permanecem e têm que ser cicatrizadas, e que é o absoluto encontro da Defesa com as nossas Forças Armadas, cada vez mais próximas e integradas - disse Wagner no discurso que fez durante o evento.

Mais tarde, em entrevista, questionado que feridas seriam essas, ele respondeu:

- Tem ainda pessoas que perderam familiares, não encontraram familiares e querem ter o direito de encontrar.

Amorim: difícil tarefa

Em seu discurso de despedida do cargo, o ex-ministro Celso Amorim, que também já foi ministro das Relações Exteriores, afirmou que estava provavelmente deixando a vida pública.

- A mais difícil tarefa que tive nessa travessia foi a intermediação entre o agrupamento militar, do qual, repito, muito nos orgulhamos, e a Comissão da Verdade. Creio que executamos os melhores dos nossos esforços do que era preciso fazer: dar acesso à verdade.