Na troca de comando da Secretaria-Geral da Presidência ontem, quem roubou a cena foi o ministro de saída, Gilberto Carvalho, e não Miguel Rossetto, que tocará a pasta no segundo mandato do governo Dilma Rousseff. Em um discurso que ele mesmo classificou como "sincericídio", Carvalho afirmou que os petistas não são ladrões e aproveitou para defender companheiros como Luiz Gushiken, que foi responsável pela Secretaria de Comunicação Social. Denunciado no escândalo do mensalão, Gushiken foi absolvido pelo Supremo Tribunal Federal, mas, segundo Carvalho, morreu sem o "devido reconhecimento".

- A imensa maioria dos nossos companheiros, ministros e assessores trabalha aqui por amor, trabalha aqui para servir. Nós não somos ladrões. Não vamos levar desaforo para casa. Temos dignidade - destacou Carvalho. - É verdade que há entre nós aqueles que tombaram e aqueles que caíram nos erros. Diferentemente de antes, cada um de nossos companheiros que cometeu um erro foi punido, pagou um preço doloroso para nós, mas pagou o preço, e isso eu espero que sirva de fato para um novo padrão republicano.

Em seguida, o ex-ministro pediu desculpas à presidente Dilma pelas dores de cabeça que suas declarações à imprensa já lhe causaram.

A cerimônia de posse da Secretaria-Geral foi uma das mais prestigiadas de ontem, com 14 ministros presentes e todas as cadeiras do Salão Nobre ocupadas. Ainda em sua fala, Carvalho destacou que o governo petista mudou a cara do país, combatendo a desigualdade. Depois, lembrou que, há 12 anos, quando entrou no Planalto, na posição de chefe de gabinete do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, rezou para continuar fiel aos princípios do PT e não se deixar seduzir pelos "rituais do poder". Antes de encerrar seu discurso, conclamou os presentes a cantar o refrão da música "O que é, o que é?", de Gonzaguinha.

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"Orgulho" de pertencer à "quadrilha" da pobreza

Em resposta - com mais de um mês de atraso - a Aécio Neves, candidato derrotado do PSDB à Presidência, o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gilberto Carvalho disse que tem orgulho de pertencer à "quadrilha" a que o tucano teria se referido como sendo a do governo de Dilma Rousseff. Em entrevista exibida no dia 29 de novembro pela "GloboNews", Aécio disse que não havia perdido a eleição presidencial para um partido político, mas para uma "organização criminosa que tinha se instalado no seio de algumas empresas brasileiras". Ontem, Carvalho reagiu com força.

- Eu quero responder que é essa a nossa quadrilha. Para eles (tucanos), pobre é quadrilha. Quero dizer com muito orgulho que pertenço a essa quadrilha, e nós vamos continuar as mudanças neste país - discursou Gilberto Carvalho, destacando que deixa o governo com uma quitinete rural e um apartamento financiado pelo Banco do Brasil e sugerindo que seja feito um acompanhamento da evolução patrimonial de quem acusa os petistas.

O líder do PSDB na Câmara, deputado Antônio Imbassahy (BA), reagiu a Carvalho e disse que a frase do ex-ministro deve ser guardada para a posteridade:

- Essa palavra "quadrilha" vai ser muito repetida ao longo do ano em consequência das investigações em curso no país. Ao ser demitido do governo, o ex-ministro Gilberto Carvalho acaba por se tornar também o primeiro réu confesso da quadrilha do PT.

discrição de rossetto

Depois da despedida-bomba feita por Carvalho, o novo ministro, Miguel Rossetto, adotou um tom discreto. Em sua fala, lembrou as orientações que Dilma deu à equipe que foi nomeada para acompanhá-la em seu segundo mandato, como, por exemplo, a continuidade das políticas sociais do governo.

Homem de confiança da presidente, o novo ministro disse que seguirá a liderança de Dilma Rousseff.