Título: Voos para deixar crise no passado
Autor: Pariz, Tiago ; Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 26/07/2011, Política, p. 2

Dilma amplia ritmo de viagens oficiais na tentativa de dar visibilidade a programas de governo e apagar a crise instalada com a sequência de problemas na Casa Civil e nos Transportes

Determinada a afastar a agenda negativa e turbinar a visibilidade de programas oficiais, a presidente Dilma Rousseff acelerou o ritmo de viagens e de cerimônias oficiais nos últimos 53 dias. Nesse período de turbulência que afeta o Planalto com a crise nos Transportes e na Casa Civil, ela visitou mais cidades e ficou praticamente o mesmo número de dias fora de Brasília do que nos primeiros seis meses de sua administração.

Entre 3 de junho e ontem, a presidente visitou 11 cidades em 13 dias viajados. No período de janeiro ao fim de maio, ficou 14 dias fora de Brasília em viagens oficiais a 10 cidades. O município mais visitado foi o Rio de Janeiro, cidade dos aliados peemedebistas Sérgio Cabral, governador do estado, e Eduardo Paes, prefeito da capital, onde ela teve expressiva votação na eleição do ano passado. Ao todo, foram oito passagens, cinco das quais entre junho e julho.

Durante os períodos mais agudos de crise, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumentava o número de cerimônias oficiais e de viagens, tendo o Rio de Janeiro e os estados nordestinos como destinos preferenciais. Dilma acaba usando a mesma estratégia, realizando mais solenidades fora do que dentro de Brasília. Nos últimos dois meses, foram 11 eventos nos estados e oito na capital.

Ontem, em Arapiraca (AL), a presidente fez o lançamento regional do programa Brasil Sem Miséria (BSM), voltado para os estados do Nordeste, e o programa Água para Todos, promessa de campanha, que prevê a construção de 367 mil cisternas na região até 2012, levando água para famílias vivendo em extrema pobreza no semiárido.

A ênfase no Brasil sem Miséria ocorre num momento em que o governo considera arrefecido o turbilhão de denúncias no Ministério dos Transportes e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, que causou o pedido de demissão de Alfredo Nascimento. Agora, na avaliação do Planalto, há mais espaço para debate sobre o programa e não sobre denúncias. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) admite que os programas estão sendo reforçados por terem sido lançados em plena crise. "Os programas foram lançados em um momento delicado e ela vai reforçá-los em alguns estados. Vai aos estados para ver temas, programas e obras acontecerem", afirmou.

O Brasil sem Miséria foi divulgado no auge da crise que levou à queda de Antonio Palocci da Casa Civil. A falta de publicidade do projeto, considerado a principal meta social do governo Dilma, vinha sendo alvo de crítica dos governistas. Eles argumentavam que nem essa proposta nem a segunda fase do Minha Casa, Minha Vida, também considerado bandeira da presidente, foram capazes de estancar a onda de denúncias. Esse recado foi levado por líderes governistas às ministras de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

Nos trilhos O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), afirmou que as visitas e as viagens estão sendo feitas agora com o Palácio do Planalto andando nos trilhos. "Depois de dar uma arrumada no governo, ela passou a fazer uma agenda de viajar pelo país, que é uma coisa que precisa ser feita. No primeiro momento ela precisava dar uma ajeitada na casa. Agora, apresentará os programas que prometeu na campanha", afirmou o líder petista no Senado, Humberto Costa (PE).

A presidente vai ter uma agenda de viagens específicas sobre o Brasil sem Miséria para lançar os programas setoriais e assinar acordos com os estados. "O BSM é compromisso do meu governo com o desenvolvimento da população mais pobre. O nosso país só será uma grande potência se todos os 190 milhões de brasileiros, em especial os aqueles que integram a população nordestina mais pobre, forem capazes de ter acesso a casa própria, saneamento, água e seus filhos ter acesso à educação", afirmou a presidente durante o evento na cidade alagoana. A meta do programa é tirar da miséria 16,2 milhões de pessoas. "Isso equivale a um Chile. São 16 milhões de brasileiros que nós temos de tirar da miséria", reforçou Dilma, que gosta de lembrar que 39,5 milhões de pessoas, população parecida com a da Argentina, ascenderam à classe média. Ela disse ainda que está focada no combate à inflação. "Somos capazes de defender a economia brasileira de todas as ameaças externas e internas. Estou me referindo à ameaça de inflação que corrói a renda do trabalhador."