BRASÍLIA

Após a euforia dos economistas com o anúncio de Joaquim Levy para o comando da Fazenda, crescem as dúvidas sobre o que pode ser feito para corrigir os rumos da economia em 2015. O novo ministro, que amanhã começa a despachar na sala ocupada por Guido Mantega nos últimos oito anos, terá que administrar uma herança: desonerações bilionárias, arrecadação em queda e gastos em alta, o que exigirá reformas cujos grandes efeitos só aparecerão em 2016. Por isso, a principal arma de Levy é a credibilidade. Ele é considerado o novo Antonio Palocci. A dúvida é se terá espaço político para trabalhar.

Mantega era visto pelos economistas apenas como um executor das ideias da chefe Dilma. Já Palocci era tido como independente. Manteve sua credibilidade como formulador de política econômica, apesar de perder duas vezes o cargo de ministro em escândalos.

- É uma crise de confiança. E confiança está sempre ligada a uma pessoa. Agora, está tudo centrado no Levy. O limite que ele tem é o limite político - avalia o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas.

Para o economista, o mais urgente é resgatar a credibilidade para evitar uma fuga ainda maior de dólares do país. Além da saída recorde de capitais do mercado financeiro, Levy tem de administrar um orçamento apertado.

reflexo na inflação

Há ainda outros desafios. Um é a ajuda que o Tesouro tem de dar para o setor elétrico fechar suas contas. Outra fatura é o aumento do salário mínimo, que deve custar R$ 22 bilhões em 2015.

Para aumentar impostos, o governo tem de respeitar a regra de anualidade: esperar um ano para elevar a maioria dos tributos com margem para ajustes. As únicas exceções são impostos considerados regulatórios, como a Cide (combustíveis) e o IOF. Há margem também para recompor a alíquota de IPI sobre bens duráveis.

Mas a ideia de aumentar a carga de tributos divide opiniões. Para Freitas, mexer no IOF seria um erro agora. Já para o ex-secretário de Política Econômica Júlio Gomes de Almeida, seria um caminho melhor do que as medidas anunciadas de aumento dos juros do BNDES e o endurecimento das regras para a concessão de empréstimos.

Levy tem mapeado outros cortes e contingenciamentos. Para arrumar as contas, o efeito é imediato. Mas, para frear a inflação, o ajuste fiscal só deve ter reflexo em 2016. Agora, o que pode ser feito é alterar as expectativas de inflação futura.

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Mantega não transmitirá cargo a Levy 

 

O ministro Joaquim Levy começará a despachar no Ministério da Fazenda amanhã. No período de transição, desde que foi anunciado como futuro substituto de Guido Mantega, em meados de novembro, Levy ocupou uma sala no Palácio do Planalto. A solenidade de transferência de posse será feita amanhã à tarde no auditório do Banco Central.

Porém, o evento não terá a presença do ex-ministro Mantega, que não esteve na posse de Dilma nem virá a Brasília para passar o bastão a Levy, já que foi embora muito aborrecido com os rumos da transição. A cerimônia de transmissão de cargo será feita por Paulo Cafarelli, secretário-executivo da gestão anterior. A expectativa é que, depois de receber formalmente o cargo, Levy anuncie os novos nomes que farão parte de sua equipe.