Brasília e Rio

Descrito por funcionários da Petrobras e executivos do setor como um homem quieto, discreto e educado, o engenheiro químico Nestor Cerveró, funcionário de carreira da estatal desde 1975, atuou em várias funções nas áreas de energia e gás até chegar à diretoria internacional, indicado pelo senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-diretor da empresa, e pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Cerveró ficou no cargo até 2008, quando foi nomeado diretor financeiro da Petrobras Distribuidora.

A sua transferência para a BR atendeu a pressões do PMDB pela nomeação para a diretoria internacional da Petrobras de Jorge Zelada, que renunciaria ao cargo em julho de 2012. A diretoria internacional passou, então, a ser acumulada pela presidente da Petrobras, Graça Foster.

Cerveró foi destituído do cargo da BR em março do ano passado após as denúncias de irregularidades na compra da refinaria de Pasadena, no Texas. A situação do ex-diretor ficou insustentável quando, em março do ano passado, a presidente Dilma Rousseff o responsabilizou pelo prejuízo de centenas de milhares de dólares no negócio. Dilma afirmou só ter aprovado a compra da refinaria em 2006, quando era presidente do Conselho de Administração da estatal, por ter se baseado em um resumo "técnico e juridicamente falho" elaborado por Cerveró. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), o negócio de Pasadena gerou um prejuízo de US$ 792 milhões. As investigações dos órgãos de controle e da própria Petrobras o descreveram como um personagem central na compra. Tanto o TCU como a Controladoria-Geral da União (CGU) o incluíram como responsável pelo prejuízo. A comissão interna de apuração da Petrobras o apontou como responsável por dez das 11 "não conformidades" no negócio.

A atuação do ex-diretor, porém, perpassou outros negócios. Em dezembro último, ele passou a responder a uma ação penal dentro da Operação Lava-Jato pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Cerveró é acusado de receber propina no processo de fornecimento de sondas de perfuração à Petrobras. Um dos delatores do esquema, o ex-consultor da Toyo Setal Julio Camargo, disse ter pago US$ 25 milhões ao lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano. A Polícia Federal e o Ministério Público afirmam que a maior parte desse recurso teria, na verdade, sido destinada a Cerveró.

O nome do ex-diretor foi mencionado pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, também delator da Lava-Jato, como operador do esquema de desvio de recursos na diretoria internacional, para a qual teria sido indicado pelo PMDB. O doleiro Alberto Youssef, outro delator, disse ter também a informação sobre o pagamento de propinas na área gerida por Cerveró.

Quando já estava enredado no escândalo, o ex-diretor foi flagrado transferindo bens para os filhos. Ele foi acusado ainda de morar em um apartamento de R$ 7,5 milhões que tinha como dona uma empresa offshore. A PF descobriu que em dezembro de 2014 ele tentou movimentar R$ 463 mil de um fundo de previdência para repassar a uma filha. Para os investigadores, eram sinais de tentativa de proteção de patrimônio oriundo de crimes praticados na companhia. Com esse argumento e o de risco de fuga, o MPF pediu, e a Justiça decretou, a prisão de Cerveró, realizada ontem.