BRASÍLIA
Mesmo com os dirigentes do partido se dizendo "perplexos" com as críticas públicas, o PT tentará manter uma política de boa vizinhança com a senadora Marta Suplicy (PT-SP), que está com um pé fora do partido. A cúpula petista está confiante que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), deve chegar ao segundo turno nas eleições municipais do ano que vem e quer garantir o apoio de Marta. Por isso, dirigentes partidários não revidaram os ataques da senadora nem pretendem reivindicar seu mandato, com base na regra da fidelidade partidária, depois de sua provável saída do PT.
- Não queremos implodir pontes - afirmou um integrante da cúpula.
Lideranças do partido não acreditam que o Ministério Público peça o mandato de Marta, principalmente por ser um cargo majoritário, e dizem que, se forem consultados pelo órgão, não apoiarão esse caminho. Os suplentes da petista no Senado também não devem recorrer à Justiça. O primeiro suplente é Antonio Carlos Rodrigues (PR), atual ministro dos Transportes. E o segundo suplente é Paulo Frateschi (PT), integrante da máquina partidária.
Assediada por outros partidos
Desde que saiu do Ministério da Cultura atacando o governo, em novembro, Marta já foi procurada pelo PDT e pelo bloco SD-PSB-PV-PPS. Nessas conversas, no fim do ano passado, ela externou a insatisfação com o PT, mas disse que ainda não tinha batido o martelo sobre sua saída do partido. A petista ficou de procurar esses partidos no início deste ano para retomar as conversas, o que ainda não fez. Se quiser disputar a prefeitura de São Paulo, Marta tem até outubro para mudar de legenda. Pessoas próximas da senadora também dizem que seu movimento não é de saída imediata do PT.
O presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), convidou a senadora para integrar o partido e disputar a prefeitura. Segundo ele, o bloco integrado pelo Solidariedade terá cerca de quatro minutos de tempo de TV. A falta de espaço no PT para Marta ser candidata à prefeitura de São Paulo é o principal motivo de insatisfação da senadora.
- Ela não tinha decidido ainda se sairia do PT, mas, depois dessa entrevista (ao jornal "O Estado de S.Paulo") acho que ela já decidiu - disse o presidente do Solidariedade.
A conversa entre Marta Suplicy e o presidente do PDT, Carlos Lupi, foi na mesma linha:
- Ela não falou em sair do PT, mas, sim, das dificuldades, e disse que se sentia discriminada - disse Lupi.
Uma preocupação do PT é que, fora do partido, Marta tire votos de Haddad na periferia de São Paulo. O presidente da legenda, Rui Falcão, no entanto, já comparou a situação de Marta à da deputada federal e ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina (PSB), que deixou o partido e teve um desempenho ruim nas eleições de 2004 para a prefeitura paulistana. Segundo Falcão, Erundina dizia, na campanha, que tinha mudado de casa, mas não de rua, e as pessoas retrucavam que ela tinha mudado de família. Ela teve apenas 3% dos votos.
Política da boa vizinhança
Apesar de já darem como praticamente certa a saída de Marta, lideranças do PT fazem acenos para que ela continue no partido. Argumentam que, se Haddad estiver com sua gestão má avaliada, ela poderia disputar o cargo, e que haveria espaço para a senadora concorrer ao governo do estado em 2018.
Na entrevista ao "O Estado de S.Paulo", a senadora explicitou o mal-estar existente entre dilmistas e lulistas. O reconhecimento público da existência do movimento "Volta, Lula" foi um dos trechos que mais incomodaram a cúpula do PT e o governo. O desejo de que o ex-presidente fosse o candidato ao Palácio do Planalto no ano passado, e não Dilma, era forte no PT, mas restrito aos bastidores. E Lula mantinha uma posição ambígua: não desencorajava, mas também não manifestava abertamente o desejo de disputar.
Lideranças petistas afirmam, porém, que Marta carregou nas tintas. Segundo essa versão, ela realmente se reuniu com o presidente do PT para discutir o assunto e queria que Falcão defendesse publicamente o "Volta, Lula", argumentando que teria recebido o aval do ex-presidente para isso.