A disputa dentro do PP pela divisão do dinheiro desviado de contratos da Petrobras provocou a troca do ministro das Cidades no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, segundo a delação do doleiro Alberto Youssef, operador do esquema. O grupo do então ministro Mário Negromonte (BA) passou a se “auto favorecer” na divisão do dinheiro enviado pelo doleiro, “em detrimento de repasses aos demais membros da bancada do PP”, diz o depoimento. Essa iniciativa teria levado à reação de outro grupo, formado pelos senadores Ciro Nogueira (PI) e Benedito de Lira (AL) e pelos deputados Arthur Lira (AL), Eduardo da Fonte (PE) e Aguinaldo Ribeiro (PB). A liderança do PP foi assumida por essa ala, e o ministro acabou substituído por Ribeiro em fevereiro de 2012. Na ocasião, Negromonte pediu demissão se queixando de “fogo amigo”.
Racha. Disputa no PP fez Aguinaldo Ribeiro virar ministro
O Ministério das Cidades era da cota do PP no primeiro mandato de Dilma. Segundo Youssef, Negromonte assumiu a tarefa de distribuir as propinas após a morte do ex-deputado José Janene (PR), em 2010. “No final de 2011 ou início de 2012, tal grupo passou a fazer repasses a menor das propinas oriundas da Petrobras para os demais integrantes do PP”, afirmou o doleiro. Integravam o grupo de Negromonte o deputado Nelson Meurer (PR) e os ex-parlamentares João Pizzolatti (SC) e Pedro Corrêa (PE). A rebelião interna levou Ciro à liderança da legenda, e Ribeiro, ao ministério.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa também apontou a disputa interna no PP em sua delação. “Quando Ribeiro assumiu a cadeira junto ao Ministério das Cidades, na mesma época Ciro Nogueira assumiu a presidência do PP. Durante esse período, os repasses ao PP se mantiveram constantes”, disse. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, concluiu, na petição enviada ao STF, que as delações demonstram como a estrutura criminosa no PP “era estável e perene”. O partido nega o recebimento de propinas.
Metade da bancada do PP será investigada
BRASÍLIA - No centro da operação Lava-Jato, o PP teve 18 dos 40 deputados da bancada na Câmara incluídos na lista de investigados pelo Supremo Tribunal Federal. Integrante do partido, o deputado Jair Bolsonaro (RJ) defendeu ontem o afastamento dos colegas investigados que ocupam cargos de direção do partido enquanto durar o processo. Entre os que tiveram inquérito aberto no STF está o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI); o líder do partido na Câmara, Eduardo da Fonte (PE); e o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Arthur Lira (AL).
— Não quero culpar ninguém, talvez tenha algum inocente, mas, apesar de ser só abertura de inquérito, vai durar meses, e as pessoas vão ficar sangrando — disse ele.
O PP é o partido com o maior número de deputados e de senadores investigados por envolvimento no escândalo de corrupção na Petrobras. Dos cinco senadores, três tiveram aceitos os pedidos de inquérito, e apenas Ana Amélia (RS) e Ivo Cassol (RO), não. Sem envolvimento na Lava-Jato, Cassol teve a prisão pedida por Janot em dezembro, por crimes cometidos quando foi prefeito num município de seu estado, mas responde em liberdade.
Dos 13 ex-deputados que passarão a ser investigados, oito são filiados ao PP e fizeram carreira no partido, caso, por exemplo, de Mario Negromonte, que foi líder da bancada progressista na Câmara e ministro das Cidades no governo Dilma Rousseff. O deputado Aguinaldo Ribeiro, também envolvido no esquema, é outro integrante do PP que foi ministro de Dilma. Ele substituiu Negromonte nas Cidades.
A senadora Ana Amélia Lemos (RS) disse que há dois caminhos em análise: fazer uma depuração do PP, mantendo os políticos comprometidos e distantes do escândalo; ou organizar uma saída coletiva para outro partido:
— Estou chocada, desolada, estarrecida. Vamos discutir internamente, em vista desse cenário. É uma situação que lembra o mensalão e, em alguns casos, há até semanalão.