Em mais de 80 anos, só 197 deputadas eleitas – O Globo

Há na Câmara dos Deputados um grande painel com as fotos de todas as mulheres deputadas desde os anos 30 do século XX. De 1934 até 2014 foram eleitas apenas 197. Nesses mais de 80 anos, elas sequer atingiram 513, o número total de parlamentares de uma legislatura. Pior: com essa bancada, as mulheres não conseguiriam iniciar uma sessão de votação ou ter quórum para aprovar um projeto de lei ou uma medida provisória. Para isso, são necessários 257 parlamentares presentes no plenário.

 

Ministra e parlamentar defendem reformas – O Globo

As 197 mulheres eleitas até hoje exerceram 407 mandatos na Câmara dos Deputados. Entre elas, algumas foram reeleitas. Na atual legislatura, Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Marinha Raupp ( PMDB- RO) completam seis mandatos na Câmara. As duas empatam com a recordista até então: Ivete Vargas ( PTB-SP), parlamentar entre as décadas de 1950 a 1980.

A baixa representação de mulheres na Câmara e na política de maneira geral é uma preocupação das lideranças femininas. A ministra da Secretaria de Políticas Para as Mulheres Eleonora Menicucci afirma que é incompreensível um país eleger e reeleger uma mulher presidente da República, mas ter poucas governadoras e prefeitas.

— A participação no Legislativo, então, é lamentável. Isso se dá por causa das mulheres? Não! Mas de uma cultura patriarcal. É difícil a mulher entrar num partido, conseguir uma divisão equitativa dos recursos e tempo igual de TV. Não há lista paritária. Uma reforma política precisa alterar isso — diz a ministra.

EM 2014, 51 DEPUTADAS ELEITAS

Coordenadora da bancada feminina, a deputada Jô Moraes ( PCdoB- MG), afirma que o crescimento do número de mulheres deputadas entre os anos de 2010 a 2014 (45 para 51) é insignificante:

— Isso não é crescimento. É estagnação — diz.

Jandira foi eleita pela primeira vez em 1991 e, dois anos depois, tornou-se a primeira parlamentar a usufruir o direito à licença-maternidade durante o mandato. Atualmente, é a única mulher líder de partido. Para a parlamentar, isso mostra como o ambiente político é predominantemente masculino.

— Foi uma batalha. Quando estava grávida da minha filha, não conseguia sair de Brasília para fazer o pré-natal no Rio. Isso dá a ideia do preconceito. Apesar de a presidente ser mulher, isso não se reflete na ocupação dos espaços de poder pelas mulheres, porque ainda há muita opressão de gênero. Só tem terno e gravata naquele Congresso. — afirma Jandira.

Para mudar esse quadro, ela defende uma reforma política que contemple mudanças no sistema de financiamento de campanhas eleitorais:

— Se não houver mecanismos de retirada do poder econômico das campanhas, continuaremos sub-representadas. O financiamento por empresas é um absurdo e prejudica a democracia, já que é uma das causas da corrupção. Enfrentar esse sistema é fundamental para a representação das chamadas minorias. Não só as mulheres, mas negros, LGBTs, índios e trabalhadores rurais.