Devido ao tamanho da Petrobras e sua multiplicidade de negócios, a montagem de um esquema de corrupção na cúpula da empresa, sob inspiração lulopetista e com a participação do PMDB e PP — pelo que se sabe até agora —, iria se refletir em vários tipos de operações da companhia.

A maior parte do dinheiro desviado que passou pela lavanderia financeira de Alberto Youssef, a ponta do novelo que começou a ser desenrolado pela Operação Lava-Jato, supõe-se que tenha saído de contratos superfaturados feitos entre a estatal e o cartel de empreiteiras. Muito dinheiro foi desviado da construção da refinaria Abreu e Lima, e do Comperj. Mas há também outras obras suspeitas, além da esquisita compra da refinaria de Pasadena, Texas, negócio que deverá ser esclarecido nas investigações em curso nos Estados Unidos.

Sabia-se que a atuação do esquema chegara à Transpetro, cujo presidente, Sérgio Machado, protegido do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), está afastado. Reportagem do GLOBO de domingo ampliou a participação no escândalo da subsidiária de transportes da estatal, por ela operar gasodutos, entre eles um construído por uma “empresa de papel”, a Gasene, empreendimento executado no Nordeste e inaugurado em 2010 nas presenças festivas do ainda presidente Lula, da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff — a dias de se lançar à sucessão de Lula —, do então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, e da diretora de Gás, Graça Foster.

A história — outra também muito característica dessa Petrobras lulopetista — atinge a Agência Nacional do Petróleo (ANP), quando ela era dirigida por Haroldo Lima, do PCdoB, um símbolo do aparelhamento político-partidário de agências reguladoras, um dos retrocessos patrocinados pelo PT no país.

Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) detectou, no mínimo, uma postura leniente da ANP na avaliação do projeto desse gasoduto. Para o empreendimento, a Petrobras se valeu de um modelo conhecido no mundo dos negócios, o de Sociedade de Propósito Específico (SPE), mas para disfarçar o projeto de privado e, com isso, escapar de qualquer controle nas licitações, por exemplo.

O dono de um escritório de contabilidade carioca, Antônio Carlos Pinto de Azeredo, foi nomeado presidente da nova empresa, porém sem qualquer poder sobre ela. Por trás, estava a estatal. Ele era um laranja.

Para gerenciar o projeto, orçado em R$ 3,7 bilhões, foi contratada uma firma chinesa, Sinopec, sem licitação, por R$ 266,2 milhões.

Este negócio abre nova frente de investigações dentro do escândalo do assalto feito à Petrobras. Um caso em que um ponto comum são dois aparelhamentos: o da estatal em si e o da agência que deveria supervisioná-la e não o fez, como constatou o próprio TCU.