A Cúpula do Clima (COP-20), reunida em Lima mês passado, encerrou suas atividades sem consenso quanto ao estabelecimento de metas obrigatórias para redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE). O objetivo dessas metas é o controle da fração das mudanças climáticas atribuída a atividades humanas. Elas vêm sendo negociadas, no âmbito das Nações Unidas, desde a COP-1, que teve lugar em Berlim, em 1995.

Para muitos, existem duas razões para esta longa inação. A primeira seria a pressão exercida pelo lobby das indústrias de carvão, de petróleo e de extração de gás, contrário a qualquer medida que prejudique o mercado destes combustíveis fósseis, responsáveis por 60% da emissão de GEE. A segunda razão seria o poder político dos EUA, onde o Congresso é dominado pelo pensamento de que a questão das mudanças climáticas causadas por atividades humanas não passa de uma invenção. Para enfrentar estas supostas dificuldades políticas, os defensores de ações drásticas e imediatas para redução de emissões insistem em difundir cenários de catástrofes ambientais iminentes, baseados nas piores previsões científicas, de longo prazo, elaboradas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) que também é patrocinado pela ONU.

No entanto, uma análise mais cuidadosa mostra que não se trata de falta de vontade política, nem de impedimentos por interesses econômicos contrariados. O problema reside na inexistência, até o momento, de tecnologias alternativas competitivas que possam substituir — na escala necessária e com vantagens — as que dispomos atualmente, as quais são baseadas no emprego intensivo de combustíveis fósseis. Decisões políticas só podem ser adequadamente tomadas quando há garantias de exequibilidade. E neste caso, a exequibilidade fica prejudicada pela inexistência de tecnologias competitivas.

A ideia de que é preciso, a qualquer custo, cortar as emissões de GEE com o objetivo de reduzir riscos ambientais potenciais esbarra ainda em outras dificuldades. Para que elas sejam reduzidas a níveis que garantam um mínimo de eficácia — segundo cálculos do IPCC —, haveria necessidade de um corte significativo na quantidade de combustíveis fósseis consumidos mundialmente. Além da impossibilidade de substituí-los por outros igualmente abundantes e versáteis, a boa ciência do clima também não pode garantir que tais cortes resultariam em diminuição do risco de elevação de temperatura na superfície da Terra.

Apesar das recomendações quase unânimes da comunidade científica em prol de propostas que contemplem ações obrigatórias para redução dessas emissões, diplomatas de países desenvolvidos e emergentes têm resistido a incluí-las nos rascunhos para o novo acordo climático a ser assinado durante a COP-21, em Paris, em dezembro deste ano. Dentre essas propostas destacam-se a criação de um imposto internacional sobre emissões e a que fixa limites para o consumo de combustíveis fósseis.

Ao longo dos últimos 20 anos, nenhuma proposta deste tipo logrou êxito, devido a seu impacto negativo para o bem-estar econômico e social de centenas de milhões de pessoas que vivem nas regiões mais pobres do planeta. É preciso não esquecer que somente agora, com o avanço da globalização, essas populações começam a ter acesso aos benefícios da prosperidade alavancado pelo uso de tecnologias comprovadamente eficazes, todas baseadas no emprego de combustíveis fósseis.

Portanto, ao que tudo indica, as dificuldades dos governos e de seus negociadores que participam das Cúpulas do Clima para chegar a um novo acordo climático global exequível refletem muito mais uma atitude prudente em relação ao bem-estar da humanidade do que um fracasso de natureza diplomática. Entre riscos futuros apontados pela ciência do clima e os benefícios concretos trazidos pelo emprego de combustíveis fósseis, a opção política é pelos benefícios.

Carlos Costa Ribeiro é consultor em ciências do meio ambiente