A menos de um mês da eleição para a presidência da Câmara, a disputa esquentou ontem, com uma troca de farpas entre o candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP), e seu principal adversário, o peemedebista Eduardo Cunha (RJ). A polêmica se deu em torno do grau de submissão de cada um ao Palácio do Planalto. Chinaglia e o candidato da oposição, Júlio Delgado (PSB-MG), contestam o cenário vendido por Cunha de que ele já estaria eleito. Os dois apostam no fato de o voto ser secreto como arma para virar o jogo.

- Falar que a Câmara tem que ser altiva é admitir, no limite e pelo inverso, que a Câmara não é altiva. Deveria dizer quem é que na Câmara não honra o mandato. Falar que é altivo e independente frente ao Poder Executivo, é só pesquisar as medidas provisórias (MPs) para ver onde é que essa altivez acaba - atacou Chinaglia, ao discursar em almoço de apoio à sua candidatura, em Brasília.

Independência de lobbies

Os ataques velados a Cunha pautaram o evento de apoio à Chinaglia, que reuniu cerca de 80 pessoas, entre deputados, ex-deputados, senadores e ministros, a maioria petista.

- O que está em jogo é uma Câmara que tenha credibilidade, seja democrática e não se ponha refém de interesses menores e não republicanos. E para isso, só temos um caminho, a candidatura de Arlindo - afirmou a líder do PCdoB, Jandira Feghali (RJ), em discurso.

A estratégia petista é rebater o discurso de defesa de uma Câmara independente do governo, feito por Cunha, afirmando que a Casa também tem que ser independente dos lobbies. Chinaglia questionou como alguém que teria cargos no governo pode pregar independência.

- Júlio (Delgado) usou uma frase instigante: "não é independente quem indica cargo no governo". Eu, então, estou me sentindo independente. Mas nem todos que se candidatam podem falar o que estou falando - provocou Chinaglia.

Procurado, Cunha rebateu o adversário, lembrando que Olavo Chinaglia, filho do petista, foi conselheiro e presidente interino do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) entre agosto de 2008 e agosto de 2012. Chinaglia presidiu a Câmara entre 2007 e 2009:

- Eu, por acaso, não nomeei meu filho para o Conselho do Cade. Os cargos não são do Eduardo, são da bancada. O cargo que eu tinha, a presidência de Furnas, não tenho mais.

Quanto à acusação velada de que defenderia lobbies privados na Câmara, Cunha disse que não comentaria porque "não vestiria a carapuça".

Chinaglia, por sua vez, reclamou que Cunha teria "baixado o nível" e disse que não teve influência na indicação do filho para o Cade:

- Ele baixou o nível. Eu não creio que a disputa pela presidência da Câmara deva levar qualquer um dos concorrentes a tentar atingir o outro via família.