Apesar das especulações de que toda a diretoria da Petrobras, incluindo a sua presidente, Maria das Graças Foster, seria substituída, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, em entrevista à colunista do GLOBO Míriam Leitão, em seu programa na GloboNews, garantiu ontem que a executiva será mantida no cargo. E afirmou que Graça Foster comandará o combate à corrupção na estatal. O ministro destacou ainda que o lado positivo do escândalo de corrupção é que a Petrobras "ficou blindada com relação à indicação política". Especialistas do setor e do mercado financeiro, no entanto, reagiram com ceticismo a essas declarações. Para eles, a Petrobras não ficará imune às pressões políticas, principalmente após a posse do novo Congresso. Parte dos especialistas ressaltou que Graça Foster e seus diretores deveriam ser substituídos.

Na entrevista, o ministro destacou que "não há nenhuma prova que possa sequer insinuar qualquer tipo de envolvimento da doutora Graça com os malfeitos". Indagado sobre a permanência de Graça Foster no cargo, Braga afirmou que ela "é competente e conhece o sistema Petrobras como poucos". O ministro destacou ainda avanços na transparência e na credibilidade da petroleira. "Estão avançando firmemente", disse, ao citar a governança e a gestão. Na terça-feira, a estatal anunciou a nomeação de João Adalberto Elek Junior para o cargo de diretor de Governança. Ele deve tomar posse na semana que vem.

Blindagem é difícil, diz economista

Segundo Edmar Fagundes, professor do Grupo da Economia de Energia da UFRJ, é difícil acreditar que a Petrobras e outras estatais não serão alvo de partidos políticos. Ele argumenta que só no dia a dia será possível comprovar se a blindagem ocorreu:

- Depois que o Congresso tomar posse é que começarão as indicações para o segundo e o terceiro escalões do governo. E, com isso, vai haver pressão política para as indicações, apesar de o governo tentar resistir. A questão é que, a partir de agora, qualquer alteração na diretoria da Petrobras será muito acompanhada e alvo de pressão se o nome não for da área técnica.

Maurício Pedrosa, estrategista da Queluz Asset Management, afirmou que o consenso no mercado é que a diretoria precisa ser inteiramente trocada:

- É difícil comprar a tese de que os desvios não foram detectados pelas auditorias internas da companhia.

Segundo Alexandre Wolwacz, diretor da Escola de Investimentos Leandro y Stormer, os investidores veem com maus olhos a permanência de Graça Foster porque sua gestão não está sendo capaz de recuperar a credibilidade da companhia. Ele também não acredita na "blindagem" da estatal:

- A lógica do governo não é a lógica dos resultados. Isso fica muito claro para os investidores estrangeiros, que não aceitam essa intervenção política. Por isso, as ações da Petrobras estão em baixa. Se a diretoria continuar como está, será muito difícil para a Petrobras se recuperar.

Para o advogado Cláudio Pinho, especialista em petróleo e gás e professor da Fundação Dom Cabral, o importante não é se Graça Foster permanecerá ou não no cargo, e sim a Petrobras definir quais serão seus projetos a curto e médio prazos.

- O plano da Petrobras era dobrar de tamanho em cinco anos, e agora qual é o seu projeto para os próximos anos? O importante agora é qual o sinal que a companhia dará ao mercado. Qual será seu projeto de curto prazo? Precisa definir também quais projetos não são econômicos, para que sejam vendidos - disse Pinho, que também não acredita que a companhia ficará imune às indicações políticas.

Ações da estatal fecham em alta na Bolsa

O gestor de uma corretora carioca, que preferiu não ser identificado, crê que o afastamento de Graça Foster é a melhor opção para empresa, mesmo que não haja provas do seu envolvimento no escândalo:

- Quer ela tenha ou não envolvimento em desvios, a Graça precisa sair da empresa. O discurso de "faxina" do ministro só seria válido se toda a diretoria fosse alterada. Não é com o quadro atual que a empresa sofrerá um choque de credibilidade.

Com isso, as ações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) vêm apresentando forte volatilidade. Após uma semana de queda, os papéis ordinários (ON, com direito a voto) da estatal fecharam ontem em alta de 8,82%, e os preferenciais (PN, sem voto), com avanço de 6,86%. Assim, a Bovespa encerrou o dia com valorização de 0,80%, em um dia movimentado no cenário externo, após a decisão da Suíça de abandonar o piso de 1,20 franco suíço frente ao euro. A moeda suíça teve valorização de 41%. Em Nova York, o Dow Jones encerrou em queda de 0,61%.

Segundo analistas, as ações também foram influenciadas pelo fato relevante divulgado na noite de quarta-feira. A Petrobras informou que pretende divulgar seu balanço financeiro no próximo dia 27, quando seu Conselho de Administração se reúne. A publicação do balanço já foi adiada duas vezes. Com relação ao balanço com o parecer dos auditores da PricewaterhouseCoopers, a empresa se comprometeu a divulgá-lo "o mais breve possível". Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora, também destacou o clima de incerteza na Petrobras:

- Não há muita clareza sobre o comportamento das ações. O que está acontecendo é uma boataria sobre mudanças na presidência da companhia. Também é bom lembrar que, na segunda-feira, tem vencimento de opções sobre ações na Bolsa, o que sempre favorece movimentações bruscas porque os investidores tentam defender suas posições. Como a Petrobras é considerada barata, fica muito mais fácil fazer grandes movimentações com os seus papéis.