Moradores de nove regiões do Distrito Federal começam o fim de semana sem ônibus. Desde ontem, os rodoviários da Viação Pioneira estão paralisados. A interrupção do serviço de 640 veículos é motivada pelo atraso no pagamento dos salários. Sem acordo, cerca de 300 mil usuários ficam prejudicados com o movimento, inclusive a população do Gama e de Santa Maria, atendida pelo Expresso DF Sul. Pela manhã, os trabalhadores da Marechal, que atende outras quatro localidades, voltaram ao trabalho. O retorno somente foi possível após os repasses dos valores devidos pela empresa. O Governo do Distrito Federal informou que não pretende interferir nas negociações entre empregados e patrões. Hoje, os trabalhadores da Pioneira se reunirão em nova assembleia. A sexta-feira começou sem transporte para cerca de 500 mil pessoas de 13 regiões do DF. No total 1,1 mil ônibus da Pioneira e da Marechal não saíram da garagem. Com a continuação da paralisação dos rodoviários da Pioneira neste sábado, a circulação de ônibus segue interrompida em São Sebastião, Itapoã, Paranoá, Jardim BotânicoPark Way, Candangolândia,Gama e Santa Maria. Na manhã de ontem, muitos passageiros de Santa Maria caminharam cerca de 40 minutos para tentar embarcar em um coletivo na BR-040. Eles queriam entrar em uma linha do Entorno para chegar até o DF. Mas, diante da grande quantidade de pessoas à espera de transporte, muitos perderam o horário para o trabalho ou não conseguiram chegar. A designer gráfica Vanessa Gomes, 28 anos, deveria estar no serviço por volta das 8h, no Setor de Indústrias Gráficas (SIG). Porém, meia hora depois do início do turno, a jovem ainda aguardava um ônibus do Entorno. Moradora da Quadra 204 de Santa Maria, ela pegou um circular da região até a BR-040. “É um grande contratempo. Fomos pegos de surpresa. Parece que as autoridades fecharam os olhos para os problemas. Está virando corriqueiro ter paralisações”, reclamouVanessa. Em Santa Maria, o problema se agravou porque os moradores dependem do Expresso DF Sul. A parada de maior movimento era a que fica ao lado da Estação Santos Dumont. Muitos passageiros chegaram a esperar mais de uma hora até conseguir embarcar em algum coletivo. Roberto de Sá de Jesus, 27 anos, fez três tentativas. Morador da Quadra 122, o auxiliar de logística normalmente usa o Expresso DF. Ontem, ele caminhou por 40 minutos até chegar à parada da rodovia. “É um grande problema. Compreendemos que os rodoviários têm que lutar pelos direitos e salários, mas, no fim das contas, é a população que depende do transporte público que fica prejudicada”, afirmou o jovem.

Cobrança

A Secretaria de Estado de Mobilidade informou que transferiu, em média, cerca de R$ 3,5 milhões para cada operadora. “Não sabemos o que aconteceu para a Pioneira não efetuar o pagamento. A empresa está cobrando valores referentes a serviços do ano passado. Apesar da paralisação, não podemos intervir na situação. Isso deve ser resolvido entre a empresa e trabalhadores”, afirmou o secretário de Mobilidade, Carlos Thomé. A pasta herdou uma dívida de cerca de R$ 55 milhões referente à gestão passada. Entre os atrasos, a Pioneira ainda deve receber R$ 4 milhões pela Operação Branca — período de testes sem cobrança de passagens — do Expresso DF Sul. Em 2015, o GDF tem que repassar outros R$ 7 milhões pela mesma operação. Segundo Thomé, o Expresso DF Sul gera prejuízos para o sistema da capital. “Identificamos que a forma de pagamento favorece a Pioneira. Hoje, é pago por quilômetro. Queremos trazer o contrato para a legalidade e começar a operação comercial no Expresso DF Sul. Não tem condições de uma empresa receber de forma diferenciada”, disse o secretário. Por meio da assessoria de comunicação, a Associação das Empresas de Transporte Coletivo do DF informou que os valores repassados correspondem a apenas 33% do devido em 2015, insuficientes para quitar a folha de pagamento e fornecedores. De acordo com a nota, a Pioneira recorreu diversas vezes a empréstimos bancários, venda de ativos e renegociou com os fornecedores. “Infelizmente, isso não é mais possível.” A associação diz ainda que a empresa “está à disposição do DFTrans para iniciar a cobrança conforme a cláusula do contrato de concessão”.