BRASÍLIA

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, disse ontem que as medidas para melhorar a balança comercial brasileira - que no ano passado registrou um déficit de US$ 3,9 bilhões - serão anunciadas dentro de 30 dias, no chamado Plano Nacional de Exportações. As propostas que serão debatidas com outros ministérios, como Fazenda e Itamaraty, abrangem financiamento, tributação, simplificação e desburocratização, tudo isso em um cenário de câmbio "amigável ao exportador". Ao GLOBO, Monteiro revelou que a política industrial será readaptada à nova realidade de ajuste fiscal - que vai impedir novos estímulos fiscais.

- Queremos dar um novo status de comércio exterior ao Brasil. Os países que crescem mais são aqueles que têm mais dinamismo na sua atividade exportadora. Isso envolve uma agenda múltipla - afirmou.

O comércio exterior terá um peso maior nas ações do governo para melhorar a competitividade da indústria nacional. Serão elaboradas diretrizes sobre como o Brasil pretende se integrar aos acordos comerciais existentes no mundo, como a Aliança do Pacífico (Colômbia, Peru, Chile e México) e a própria União Europeia, que negocia um tratado com o Mercosul.

- Eu diria que a política industrial vai ter de ser adaptada a esse novo cenário, preservando os instrumentos que são estruturantes e que não podemos perder, como o Inovar Auto e o PSI (Programa de Sustentação do Investimento), para renovar o parque fabril. Vamos rebalancear a política industrial, conferindo maior peso ao comércio exterior.

Segmentos beneficiados

A perspectiva de um saldo positivo na balança comercial brasileira é factível, na opinião do ministro, por uma série de fatores: o dólar está mais valorizado, os EUA estão se recuperando, uma safra recorde de grãos está a caminho e o déficit da conta petróleo, que no ano passado foi de US$ 16 bilhões, vai diminuir. Perguntado sobre quais segmentos serão beneficiados pelo governo, ele respondeu que a escolha será feita em conjunto com o setor privado.

- Vamos ouvir os setores e fazer a avaliação sobre quais estão precisando efetivamente de maior suporte, para que dinamizem a atividade exportadora.

Sobre a possibilidade de um ciclo de abertura comercial, sinalizado pelo colega da Fazenda, Joaquim Levy, Monteiro disse que o Brasil já tem, na média, tarifas relativamente baixas, embora existam setores com maior grau de proteção.

- Dentro da visão do que é racionalidade, economias fechadas costumam se transformar em economias ineficientes. O grande tribunal da competitividade é a exportação.

Ele reafirmou que o ajuste fiscal é necessário, mas observou que não deve ser feito de forma aleatória, somente na "lógica da tesoura".

- O ajuste é fundamental, mas precisamos considerar a necessidade da costura. Somos um governo só. Vamos ser solidário nas medidas de ajuste, mas cada um tem de fazer sua parte.

O ministro comparou o Mercosul a um casamento que, mesmo indissolúvel, precisa de ajustes para a convivência harmônica. Acrescentou que, entre os mercados em que é preciso melhorar o desempenho das exportações, está a China.

Para Monteiro, se, por um lado, o dólar valorizado permite ganhos maiores dos exportadores em reais, por outro, encarece os custos de produção, tendo em vista que boa parte de insumos e componentes é importada. Afirmou, porém, que o ganho maior é na exportação.

- Quando a taxa de câmbio favorece a exportação, desfavorece a importação e aí alguns bens ficam mais caros. Bens de capital, insumos de componentes intermediários. Mas acho que, no conjunto, os ganhos são maiores que as perdas.