RIO E SÃO PAULO

O desempenho da indústria em novembro - com queda de 0,7%, enquanto economistas esperavam alta na atividade - confirma a expectativa de que 2015 será difícil. Já há quem preveja que este será mais um ano de recuo para o segmento. O resultado negativo ocorreu depois da pequena recuperação de 0,1% em outubro. Ao longo de 2014, foram seis meses de retração da indústria, um de estabilidade e outros quatro de crescimento. Na comparação com novembro de 2013, a perda chegou a 5,8% e, nos doze meses encerrados em novembro, a atividade caiu 3,2%, mesma queda registrada de janeiro a novembro do ano passado.

Economistas revisaram para baixo as projeções tanto para 2014 quanto para este ano. A Rosenberg y Associados, que estimava crescimento de 1,4% para a indústria em 2015, passou a esperar queda de 0,5%. A LCA Consultores prevê alta de 0,4%, mas avalia a taxa como muito próxima da estabilidade. Já a Tendências Consultoria aguarda expansão de 1%. Para 2014, a estimativa de queda da LCA passou de 2,5% para 3%, enquanto a Tendências colocou em viés de baixa sua projeção de perda de 2,8%. Essas previsões indicam que o ano passado pode ter sido o pior para a indústria desde 2009, quando o setor encolheu 7,1%.

A queda sobre novembro de 2013 foi o nono resultado negativo em relação a igual mês do ano anterior e o mais forte desde junho (-6,9%). Considerando apenas os meses de novembro, é o pior desempenho desde 2008, ano em que houve a crise global e a produção caiu 6,1%.

O resultado foi muito influenciado pela produção de alimentos, que caiu 3,4% em relação a outubro e 8,7% sobre novembro de 2013. Foi um movimento ligado principalmente ao desempenho do açúcar, já que a cana-de-açúcar sofreu com a seca que atingiu a lavoura.

Mas os elevados níveis de estoque, a desaceleração do consumo doméstico, o fraco crescimento da economia internacional e ainda baixos indicadores de confiança sugerem que a atividade industrial não deve ter recuperação significativa no curto prazo.

- Nossa previsão agora é de queda na produção industrial em 2015. Será um ano de ajuste necessário e a curto prazo não há muito o que fazer para estimular o setor. O que é necessário é um plano de reformas microeconômicas, que reduzam o Custo Brasil e permitam a retomada do crescimento a partir de 2016 - afirma a economista-chefe da Rosenberg y Associados, Thaís Marzola Zara.

A avaliação de um ano difícil é compartilhada pelo economista da LCA Consultores Rodrigo Nishida, que espera um avanço pequeno para 2015:

- Nossa perspectiva não é muito animadora. Não há espaço para crescimento de bens de consumo duráveis, seja veículos ou eletrodomésticos, nem para bens de capital, agora com endurecimento das condições de financiamento do BNDES. Será um desempenho muito próximo da estabilidade.

sem melhora em dezembro

Para Aloísio Campelo, superintendente adjunto para ciclos econômicos da Fundação Getulio Vargas (FGV), a indústria não deve ter se recuperado em dezembro. Ele prevê que o setor tenha fechado o ano passado com retração de até 3,4%. O resultado, no entanto, não alterou a expectativa para o PIB, que ele prevê que encerre 2014 com alta de só 0,1%.

- Não vejo um dezembro muito favorável, porque houve muita antecipação de férias coletivas. Sazonalmente, o mês já costuma mostrar uma queda, mas 2014 deve ter sido pior do que a média.

Segundo o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Luiz Macedo, a maior influência para a retração da indústria em 2014 é "isoladamente" da produção de veículos automotores. Apesar da melhora em novembro, o segmento acumula queda de 17,3% nos 11 primeiros meses de 2014. No resultado global do ano também houve influência negativa da inflação, reconhece Macedo.

Veículos têm queda de 17,3%

Para Rafael Bacciotti, economista da consultoria Tendências, o setor de automóveis deve fechar 2014 com o pior desempenho da série histórica do IBGE, iniciada em 2002. Ele projeta recuo de 17,4% em 2014. Até hoje, o pior resultado anual foi em 2012, com queda de 13,5%.

Balanço divulgado ontem pela Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostra que, mesmo com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ao longo de todo o ano, as montadoras demitiram 12.400 trabalhadores em 2014, ou 7,9% do total. Já a produção foi de 3,146 milhões de unidades,15,3% menor que em 2013. As vendas tiveram tombo de 7,1 %.

- Ainda há um excedente do nível de emprego em relação à produção. Mas a redução de 7,9% em 2014 foi feita por meio de mecanismos acordados com o governo, como a não renovação de contratos temporários, planos de demissões voluntárias e acordos com sindicatos - disse Luiz Moan, presidente da Anfavea, negando que haja uma tendência de cortes de postos de trabalho no setor.

Em São Bernardo do Campo, os funcionários da Mercedes-Benz voltaram ao trabalho ontem, depois de paralisação de 24 horas em protesto contra a demissão de 244 funcionários na virada do ano. Já na fábrica da Volkswagen, também no ABC paulista, a greve continua e completou três dias ontem.