RIO e BRASÍLIA

Em um ano marcado pelo aumento nos preços dos alimentos e da energia elétrica, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fechou 2014 em 6,41%, pouco abaixo do teto da meta oficial do governo, que é de 6,5%. A meta é 4,5%, com dois pontos percentuais de margem para cima ou para baixo. Desde que o regime de foi adotado, em 1999, o teto da meta foi ultrapassado três vezes: 2001, 2002 e 2003.

O IPCA acelerou frente aos 5,91% registrados em 2013. Em dezembro, a taxa ficou em 0,78%, também acima do 0,51% do mês anterior. Os preços dos alimentos subiram 8,03% no ano passado, pouco abaixo dos 8,48% de um ano antes e foram a principal influência para índice, respondendo por 1,97 ponto percentual. O grupo habitação veio em seguida, com aumento de 8,80% e impacto de 1,27 ponto percentual. É neste grupo que estão os gastos com energia elétrica, que subiram 17,06%, um salto diante da queda de 15,33% do ano anterior. Juntos, alimentos e habitação responderam por mais da metade do IPCA do ano passado, ou 3,24 ponto percentual.

- Desde 2009 que a inflação não encosta na meta, que é de 4,5%. A inflação acelerou de 2012 para 2013, de 2013 para 2014 e deve avançar de novo em 2015. A taxa de 6,41% não é para comemorar - analisa a economista do banco Brasil Plural Priscilla Burity.

Segunda menor taxa desde 1994

Com o resultado de 2014, a taxa média de inflação do primeiro governo da presidente Dilma Rousseff foi de 6,17%, a segunda menor desde a estabilização da economia, em 1994. A inflação mais baixa do período ocorreu no primeiro governo Lula, 5,51%, segundo cálculos do Banco Brasil Plural. O primeiro mandato de Lula teve IPCA médio de 6,43%. Nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso, a inflação foi de 9,71% e 8,78%, respectivamente.

Individualmente, o preço que mais subiu em 2014 foi o da carne, 22,21%. Diversos fatores contribuíram para o aumento: oferta menor por causa de abate de animais em anos anteriores, maior demanda da Rússia - um dos principais compradores da carne brasileira e que sofreu sanções para importar de Estados Unidos e União Europeia pela anexação da Crimeia - e a seca, que prejudica as pastagens e aumenta o custos.

Os números também mostraram que 2014 foi ano de desaceleração da inflação de serviços e alta dos preços administrados (monitorados pelo governo). A variação dos serviços passou de 8,75% em 2013 para 8,32% ano passado, enquanto os administrados pularam de 1,55% para 5,32%. Movimento que deve se acentuar este ano.

- Em 2014, o IPCA avançou em relação ao ano anterior. Em 2013, fechou muito perto de 6%, enquanto em 2014, muito perto de 6,5%. As despesas com alimentação e moradia avançaram. A diferença grande foi a energia elétrica, que contribuiu muito para conter a inflação em 2013 e, em 2014, voou mais alta - afirmou Eulina Nunes, responsável pelos índices de preços do IBGE.

Avaliação cautelosa também faz a economista da Tendências Consultoria Adriana Molinari.

- Para janeiro, esperamos uma alta de 1,22% dos preços, o que deve elevar a inflação em doze meses para 7,11%. Na maior parte dos meses de 2015, deve ficar acima dos 6,5%. Nossa projeção para o ano fechado é de 6,4%, com viés de alta.

E a pressão nos preços já começou este mês, por causa de reajustes nas tarifas de ônibus urbano (Rio, Belo Horizonte e Salvador), trem e metrô (São Paulo), ônibus intermunicipal (Rio, São Paulo, Fortaleza, Belo Horizonte e Vitória), taxa de água e esgoto (São Paulo e Campo Grande), energia elétrica (Porto Alegre, São Paulo e Brasília) e táxi (Rio, São Paulo e Recife). Além disso, este é o primeiro mês do sistema de bandeiras tarifárias, que cobra adicional na conta de luz de acordo com a situação de geração de energia. Em janeiro, com a bandeira é vermelha, será cobrado R$ 3 a mais para 100 quilowatt-hora (Kwh) consumidos.

André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual, está mais otimista que a maioria dos analistas. Enquanto a projeção do Boletim Focus, do Banco Central prevê inflação de 6,56% este ano, Perfeito aposta em 6,2%. Argumenta que o desemprego deve aumentar até o fim de 2015 e puxar para baixo a inflação de serviços. Já Alexandre Ázara, economista-chefe do banco Modal, acredita que a influência maior virá dos preços administrados. Uma das incógnitas, diz, são os combustíveis: queda do petróleo influencia os preços para baixo, mas governo pode reajustar para beneficiar a Petrobras.

Tombini: em busca de 4,5%

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, culpou o dólar e as tarifas de serviços públicos pela inflação no Brasil. No entanto, ele prometeu, mais uma vez, fazer o necessário para colocar o IPCA na meta de 4,5% em 2016. "Embora a inflação tenda a mostrar resistência no curto prazo, o Banco Central reafirma que irá fazer o que for necessário para que este ano a inflação entre em longo período de declínio, que a levará à meta de 4,5% em 2016", afirmou em nota.