BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, admitiu ontem que os preços devem subir este ano devido a algumas "arrumações" que o governo precisa fazer para a economia voltar a crescer, mas ressaltou que o Banco Central (BC) continuará trabalhando para baixar a inflação e fazer com que ela vá para o centro da meta, de 4,5%, em 2016. Em conversa com internautas por meio do Portal Brasil, no Facebook, ele comentou o resultado do IPCA, que fechou 2014 em 6,41%, pouco abaixo do teto da meta, de 6,5%, destacando que o governo cumpriu sua promessa.

"Apesar de todos os desafios, ela (inflação) ficou dentro do combinado", disse o ministro ao responder a perguntas feitas por pessoas que acessaram a rede social para conversar com ele.

Segundo Levy, janeiro e fevereiro devem registrar alta nos preços não apenas em função de uma sazonalidade, pois há reajustes de IPTU, mensalidades escolares e tarifas de transporte, mas também de medidas que o governo adotará. A equipe econômica quer acabar, por exemplo, com o represamento de tarifas (como energia e transportes) feito pela equipe anterior para tentar segurar a inflação:

"Para a economia voltar a crescer, temos que fazer algumas arrumações, e isso pode mexer em alguns preços. Os economistas chamam isso de mudança nos preços relativos, e ela é importante para acomodar a economia em um novo caminho de crescimento."

balanceamento de impostos

Ele também defendeu o ajuste fiscal que a equipe já começou a implementar: "Para segurar a inflação, é preciso que o governo não gaste demais. Se a gente fizer isso agora, vamos poder ter a inflação caindo no ano que vem."

No bate-papo virtual, vários internautas mostraram preocupação com o aumento de impostos, medida que também vem sendo sinalizada pela nova equipe econômica. O ministro disse que esse tipo de ação é importante para o governo equilibrar suas contas, mas que isso será feito "com cuidado" e depois de "esgotadas outras possibilidades", mostrando que sua preferência no ajuste fiscal é pelo corte de gastos:

"A gente provavelmente terá que pensar em rebalancear alguns impostos, até porque alguns foram reduzidos há algum tempo. E essa receita está fazendo falta. Mas, se houver alguma mudança, vai ser com cuidado e depois de a gente esgotar outras possibilidades. Estamos no caminho certo, e dessa vez a gente está tentando acertar as coisas bem antes de estar numa crise. Como diz um amigo meu, estamos podendo consertar o telhado em dia de sol", afirmou Levy.

Uma das medidas tributárias que vêm sendo discutidas pela equipe econômica é mudar a cobrança de Imposto de Renda (IR) que incide sobre as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e as do Agronegócio (LCAs). Segundo técnicos do governo, uma ideia é fazer com que as pessoas físicas paguem IR sobre esses títulos, de acordo com o prazo do investimento. Hoje, LCAs e LCIs são isentas de IR.

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Joaquim conversa com o povo 

'Olá. Eu sou Joaquim. Eu acabei de assumir o cargo de ministro da Fazenda." Assim se apresentou o ministro da Fazenda - mais acostumado a se ver citado pelo sobrenome, Levy - no vídeo de abertura de um bate-papo, o Face do Face, com internautas pelo Facebook. Ele queria conversar com o povo, mas durante uma hora e 20 minutos respondeu a oito das mais de 400 perguntas que recebeu no perfil do Portal Brasil.

Um dos sortudos a receber a atenção de Levy foi o internauta que perguntou o que o cidadão comum poderia fazer para dar uma força no ajuste fiscal. "Só o trabalho pode criar riqueza", explicou Levy. Infelizmente, ficaram sem resposta algumas das agonias que tomam conta do coração dos brasileiros sempre que um governo começa: se há risco de congelamento de aplicações e por que "os preços estão incontroláveis" nos supermercados. Buscando evitar o economês, Levy falou de crescimento da economia, inflação, ajuste fiscal, mudanças nos benefícios previdenciários e mercado de trabalho.

Um internauta perguntou a Levy se ele se considerava um "Chicago boy" - do grupo de economistas que estudaram na Universidade de Chicago, de perfil liberal - já que ele é PhD em Economia pela instituição. Levy disse que a pergunta era divertida e defendeu a linha de pensamento da instituição: "Essa Universidade tinha um professor que dizia uma frase que ficou muito conhecida, e que a gente sabe que tem seu grão de verdade: 'Ninguém come realmente de graça'. A gente sabe que quando alguém passeia ou faz alguma coisa sem pagar, outra pessoa está pagando."

Entre os questionamentos, alguns curiosos: quem matou o ex-prefeito petista Celso Daniel, de Santo André, e o que vai chegar primeiro a R$ 5: gasolina, dólar, passagem de ônibus ou ação da Petrobras. Também houve uma chuva de reclamações - que não receberam a atenção de Joaquim - sobre atraso no pagamento de bolsas e em chamar concursados.