O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal o arquivamento das investigações envolvendo o senador Aécio Neves (PSDB-MG) na Operação Lava Jato, por considerar insuficientes as informações fornecidas pelo doleiro Alberto Youssef.

Ao comentar o arquivamento ao Estado, Aécio acusou ontem, 4, o governo de ter atuado para incluir a oposição na lista dos políticos acusados de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras. “Recebo como uma homenagem o arquivamento. Foram infrutíferas as tentativas de setores do governo de envolver a oposição na investigação”, disse. Questionado sobre quem teria atuado para prejudicá-lo, o senador não respondeu.

Aécio afirmou não saber nada a respeito das citações ao seu nome no processo da Lava Jato e disse não ter interesse em se informar. À noite, o tucano divulgou nota em que cita mensagem enviada pelo advogado de Youssef, Figueiredo Basto. “Não existe qualquer fato concreto ou prova que vincule o senador Aécio Neves com meu cliente.”

Em delação premiada à qual o Estado teve acesso, o delator afirmou que o tucano teria recebido dinheiro fruto de propina de Furnas, estatal do setor elétrico, por meio “de sua irmã”, sem citar nomes ou detalhes. Aécio tem duas irmãs, Angela e Andrea - a última trabalhou no governo mineiro e na campanha eleitoral de 2014.

O termo de colaboração número 20, que registra confissão do doleiro feita no fim do ano passado, tem como “tema principal: Furnas e o recebimento de propina pelo Partido Progressista e pelo PSDB”. Além de Aécio, são citados o ex-deputado do PP José Janene, morto em 2009, e um executivo da empresa Bauruense. O portal estadao.com.br revelou na tarde de ontem, 4, o conteúdo da citação sobre o tucano, que está sob sigilo.

O pedido de arquivamento é um dos sete feitos na terça-feira pelo procurador-geral. No mesmo dia, Janot solicitou ao Supremo autorização para investigar 54 pessoas em 28 inquéritos. Os pedidos estão sob relatoria do ministro Teori Zavascki.

Youssef relatou aos investigadores que recolheu dinheiro de propina na Bauruense, prestadora de serviços para Furnas, cerca de dez vezes. Em uma delas, foi informado que o repasse não seria feito integralmente - faltariam R$ 4 milhões porque “alguém doPSDB” havia coletado essa quantia antes.

Indagado pelos procuradores, Youssef declarou não ter informação de quem havia retirado parte da comissão, mas afirmou “ter conhecimento” de que o então deputado federal Aécio Neves teria influência sobre a diretoria de Furnas e que o mineiro estaria recebendo o recurso “através de sua irmã”, segundo o texto literal da delação. O delator disse “não saber como teria sido implementado o ‘comissionamento’ de Aécio Neves”.

Na delação, o doleiro descreve que “de 1994 a 2001 o PSDB era responsável pela diretoria de Furnas”. Youssef declarou que recebia o dinheiro destinado a Janene em Bauru (SP) e na capital paulista e o enviava a Londrina (PR) ou Brasília. No depoimento, ele afirmou que os diretores da Bauruense poderiam fornecer mais informações sobre Furnas e que a empresa já responde a inquérito no STF.

Conversa

Congressistas do PSDB disseram ao Estado que um deputado do partido com interlocução no Ministério Público chegou a procurar Janot quando surgiram rumores sobre a citação do nome do tucano pelo doleiro.

Em uma conversa descrita como dura, o procurador teria sido lembrado que uma denúncia vazia demonstraria apenas a intenção de envolver a oposição no esquema comandado por PT, PMDB e PP. Janot também ouviu que Aécio teve 53 milhões de votos nas últimas eleições e que o partido não aceitaria a “politização” da denúncia. A assessoria de Janot não respondeu a questionamentos da reportagem sobre a suposta conversa a respeito de Aécio.

 

RENAN ESTOUROU ‘TETO’ DE 3% DA PROPINA, AFIRMA EX-DIRETOR

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou em delação premiada que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), recebeu propina em contratos da Diretoria de Abastecimento e que, na prática, os pagamentos ao peemedebista “furaram” o teto de 3% estabelecido como limite dos repasses a políticos no esquema de cartel e corrupção desbaratado pela Operação Lava Jato.

O esquema envolvia o loteamento de diretorias da Petrobras por PT, PMDB e PP, que arrecadaram de 1% a 3% de propina nos contratos. Segundo Costa, a propina excedeu os 3% para que “fosse incluído um valor para Renan”, mas não há detalhes sobre o contrato em que isso ocorreu.

O ex-diretor disse à força-tarefa que o peemedebista usava como “interlocutor” dos contatos com a Diretoria de Abastecimento - controlada pelo PP - o deputado Aníbal Ferreira Gomes (PMDB-CE). Aliado da família Calheiros, ele empregou em seu gabinete o caçula de Renan, Rodrigo Rodrigues Calheiros.

Pedido

O ex-diretor disse ter sido procurado pelo deputado entre 2007 e 2008 e que recebeu deste um pedido de Renan para que a Petrobras “passasse a contratar uma empresa, a Serveng-Civilsan”. A empresa foi contratada para obras da refinaria Premium I, no Maranhão, empreendimento hoje paralisado.

Em Brasília, Renan evitou comentar o assunto. “Até o momento nós não sabemos absolutamente de nada. Não fomos informados por ninguém”, afirmou, referindo-se aos pedidos de inquérito enviados na terça-feira ao Supremo Tribunal Federal pelo procurador-geral da RepúblicaRodrigo Janot.

Aníbal disse conhecer Costa, mas negou envolvimento com o esquema investigado pela Lava Jato. Ele disse jamais ter atuado como “representante” de Renan. A Serveng afirmou desconhecer o assunto e disse que sua atuação “é pautada pelo cumprimento à lei”.