Título: A agricultura rodoviária
Autor: Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 24/07/2011, Política, p. 2/3

Na rodovia BR-364 ¿ que se inicia em São Paulo e corta Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre ¿, não faltam casos de gente que não apenas tomou posse de pedaços dos acostamentos, como fizeram dali um lugar de plantio e sustento da família. Cesar da Silva, 26 anos, vive no trecho da rodovia próximo à cidade goiana de Mineiros, junto à fronteira com Mato Grosso. Com a esposa, três filhos e sem dinheiro para pagar aluguel, decidiu construir por conta própria uma pequena casa e planta para comer e vender. "Foi o jeito que arrumamos. Ninguém, nem polícia nem fiscal, apareceu aqui para reclamar ou multar. Estamos em paz e vivendo bem melhor", diz ele.

Na mesma rodovia, Soliete Camilo, 56 anos, torce pela visita de um representante do Estado para negociar sua saída. Com sete filhos, que brincam a poucos metros de onde passam os veículos, ela vive no acostamento há pouco mais de um ano e chegou no local a convite de um amigo que recebera a promessa de um político de que as pessoas que habitassem margens de rodovias seriam devidamente indenizadas. Nada aconteceu. "Agora que viemos, não temos mais para onde ir. Temos de esperar que alguém apareça e queira negociar nossa saída. Sem isso, ficaremos nesse inferno e correndo riscos todos os dias", conta. (it)