Principalmente, para o Governo do DF. Enquanto, em casa, os pais tentam organizar materiais escolares, logística para deixar e buscar a criança ou o adolescente na unidade de ensino, o Executivo local também tenta ajustar alguns pontos. São escolas que ainda não estão prontas para receber os alunos, quadro incompleto de professores e greve de merendeiras. E houve ainda quem nem conseguisse retomar os estudos por falta de transporte escolar do governo.


Após o impasse por causa dos atrasos, dos parcelamentos de salários e da paralisação dos professores, o retorno das aulas, uma semana depois da previsão do governo, soava como a volta da normalidade. Mas não foi bem assim. Sem pagamento de benefícios, como férias, tíquete-alimentação e vale-transporte de janeiro e fevereiro, 800 merendeiras da rede pública de ensino, empregadas da Empresa G & E, decidiram parar até que a dívida seja quitada. Outras 500, da Planalto, aguardarão acordo previsto para hoje, mas estão em estado de greve.


Na área de transporte, mais problemas atrapalharam o retorno do ano letivo para alunos do ensino especial. O governo tem 106 veículos próprios que atendem os estudantes, mas não conseguiu finalizar o contrato com a empresa que vai gerir os ônibus. Sem motoristas e monitores para esses percursos, os coletivos não rodaram. E as crianças não foram para a escola. Em nota, o Executivo local afirmou que a situação será “resolvida no menor tempo possível”. A Secretaria de Educação do DF também tem aproximadamente 500 ônibus locados para atender alunos de 14 Coordenações Regionais de Ensino. Podem ser usados no trajeto entre a casa e a escola do aluno, quando não há ônibus de linha na localidade.

 

 

Marcelo Ferreira

(Com a greve) Vai ter que mexer no calendário, acaba interferindo nas férias, e tira do ritmo que já vínhamos, de planejamento. Mas a expectativa é que consigam voltar ao normal, sem prejudicar o ensino das crianças Antônio José Corrêa, 57 anos, autônomo, pai de Juliana Teixeira da Silva, 12, aluna do Elefante Branco

Sem cara nova
Mesmo com os professores em sala de aula, a situação das unidade de ensino não é a ideal para receber os alunos. Faltam profissionais e, em muitas escolas, as obras de reforma para este ano letivo não foram terminadas. São reparos das partes elétrica e hidráulica que deveriam ter sido finalizados até antes do início do calendário escolar, em 23 de fevereiro, mas ainda estão em andamento. Os alunos do Centro de Ensino Médio Setor Oeste, na 912/913 Sul, sabem bem como é isso. No primeiro dia de aula, saíram antes do horário previsto. Motivo: falta de professores.

 


Os adolescentes estão sem as matérias de filosofia e português, na área de texto. Ontem, no horário que deveriam ter assistido à aula de espanhol, fizeram tarefa de matemática porque não havia docente. A unidade sofre também com problemas estruturais. Nos banheiros feminino e masculino, faltam privadas, além de papel higiênico e sabão para lavar as mãos. No Centro de Ensino Médio Elefante Branco, na 908 Sul, estudantes relatam a falta de acabamento nas salas. Canos estão expostos em algumas delas, há paredes descascadas e carteiras em mau estado de conservação.


Os problemas relacionados ao estado das unidades de ensino foi um dos principais motivos alegados pelo governo para o adiamento do início do ano letivo, previsto inicialmente para 9 de fevereiro. Ao todo, a pasta da Educação separou R$ 3,5 milhões para essas reformas. No entanto, segundo o Sindicato dos Professores (Sinpro-DF) , algumas instituições receberam apenas R$ 1 mil, vindos do Programa de Descentralização Administrativa e Pública do Distrito Federal (PDAF). “Muitas escolas estão recebendo os alunos de forma precária e algumas não receberam os recursos”, afirma o diretor do Sinpro-DF, Samuel Fernandes. O governo do DF garante que “as intervenções prosseguem até que as empresas contratadas para a ação finalizem os serviços”, mas não estipula prazo para o encerramento das reformas.

Logística
Na porta das escolas, vários pais esperavam, ontem, a saída dos filhos. A administradora Kênia Miquecia Rodrigues Alves, 33 anos, aguardava a filha mais velha no carro, com o marido e os outros dois filhos. Segundo ela, a volta às aulas é momento de organizar as coisas em casa e a logística de como será a distribuição das crianças nas escolas. “O primeiro dia é o mais complicado, né? Temos três filhos, cada um em uma escola, então, estamos avaliando como ficará com a experiência de hoje”, contou. Para o marido, o publicitário Juscelino Kelmon Rosa Maia, 37, a preocupação é com o estado das escolas. Em apenas uma das unidades em que os filhos estudam, segundo Juscelino, a infraestrutura está satisfatória. “As outras estão muito ruins, com vários pontos deficientes”, relatou o pai.


Para o autônomo Antônio José Corrêa, 57, uma das principais preocupações é com a reposição das aulas da filha, Juliana Teixeira da Silva, 12. “Vai ter que mexer no calendário, acaba interferindo nas férias, e tira do ritmo que já vínhamos, de planejamento. Mas a expectativa é que consigam voltar ao normal, sem prejudicar o ensino das crianças”, disse.

 

Negociações
A reposição das aulas perdidas durante a paralisação dos professores ainda vai ser discutida entre governo e sindicato. A categoria encerrou o movimento na última sexta-feira, após assembleia na Praça do Buriti. No entanto, ficou acertado que, em 9 de abril, os profissionais voltam a se reunir para avaliar o andamento das negociações com o GDF sobre o pagamento dos atrasados referentes às férias, ao 13º e à rescisão contratual dos temporários. Em 2014, pelo menos 6,5 mil professores da rede foram demitidos sem a quitação do acerto, ao fim do ano passado.