O gramado em frente ao Congresso foi completamente tomado por manifestantes ontem — de crianças de colo a idosos. As cerca de 50 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, pediam combate à corrupção e rigor na apuração dos desvios na Petrobras. Os organizadores do ato, contudo, estimam que o número tenha sido o dobro no momento de maior concentração, por volta das 12h. “A nossa luta é para que o Brasil não continue sendo o palco da corrupção, dos escândalos e da falta de punição. Quero um país sério, onde eu possa realmente dizer que tenho orgulho de ser brasileiro”, comentou o servidor público Emerson Mondragon, 41 anos. 

O protesto em Brasília começou por volta das 9h. O clima foi pacífico até o fim da tarde, quando foram atiradas garrafas contra a polícia, que revidou usando bombas de efeito moral e gás de pimenta. Dez pessoas foram detidas e nove ficaram feridas. Dois mil policiais e 200 viaturas foram responsáveis pela segurança. 

Manifestantes gritaram palavras de ordem contra a corrupção, principalmente em referência à Operação Lava-Jato. O PT foi o partido mais citado, apesar de o esquema envolver também integrantes de PMDB, PP, PTB e PSDB. Algumas pessoas usaram faixas com a frase “A culpa é das estrelas” e muitas pediram a renúncia da presidente Dilma Rousseff. O momento de maior concentração ocorreu por volta das 12h, quando um dos membros do movimento Limpa Brasil leu um manifesto em cima de um carro de som e a multidão cantou o Hino Nacional. 

A estudante Gabriella Espíndola, 23 anos, mostrou sua “indignação com o preço das coisas”, principalmente da gasolina. Ela gasta cerca de R$ 300 por mês com combustível. A moradora do Grande Colorado foi ao ato com a mãe, Luciane Espíndola. Ambas usavam camisetas compradas por R$ 10 com as frases:“Fora Dilma. Impeachment já. O Brasil é verde e amarelo. Nunca mais será vermelho”. 

O empresário Paulo Teixeira, 36, morador de Vicente Pires, reuniu amigos, e todos foram a cavalo para o protesto. Segundo Paulo, o movimento pede um Brasil sem corrupção e justo. O dentista Vitorio Campos, 62, usou uma estratégia diferente para chamar a atenção, inclusive, da imprensa internacional: levantou uma faixa em inglês. “A situação está calamitosa. Queremos um país sem roubalheira. Meu partido é o Brasil”, comentou a médica Marilza Fantin, 40 anos, que estava acompanhada do marido, Rodrigo Pepe, 46. 

De acordo com Jailton Almeida, do Vem pra Rua DF, o ato recebeu doações de pessoas e empresas, mas não houve financiamento de partidos. O dinheiro foi utilizado para a impressão de panfletos e o aluguel de oito carros de som. Jailton classificou o protesto como “espetacular” e elogiou a atuação policial. “O povo de Brasília fez uma manifestação ímpar de cidadania”, afirmou Aldo Julio Ferreira, do Movimento Contra a Corrupção. O protesto foi organizado pelos dois grupos, junto ao Limpa Brasil e a outros três. 

Lava-Jato 

Um grupo de amigos levou uma cela com fotos dos envolvidos na Lava-Jato até o Congresso. Nas grades, estavam 48 pessoas citadas na operação, incluindo os peemedebistas Eduardo Cunha e Renan Calheiros, presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente. 

Alguns grupos isolados pediram intervenção militar. Um deles chegou com um carro de som em frente ao Congresso por volta das 15h, quando a maioria já havia dispersado. Marcos Fardel, integrante do grupo que veio do Rio de Janeiro, defende que não houve golpe em 1964 e que deveria ser feito o que chamou de “intervenção militar constitucional”.