Após assistir à insatisfação de uma multidão que saiu às ruas para se manifestar contra o governo e atos de corrupção, parlamentares da base aliada e da oposição tiveram diagnósticos completamente antagônicos sobre os desdobramentos dos protestos. Para os oposicionistas, se o Planalto não souber fazer a leitura correta dos protestos, a caminhada rumo ao impeachment será inevitável. Já os aliados reforçaram a necessidade da reforma política, mesmo argumento apresentado pelos ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Miguel Rossetto (Secretaria- Geral), em entrevista coletiva no início da noite de ontem. 

A única concordância entre os adversários foi a surpresa com o tamanho das manifestações de rua. “Foi a fotografia da indignação, a sinalização da população. E, se o governo não souber dar respostas com atitudes, e não apenas palavras, será inevitável o debate sobre o impeachment”, avaliou o líder da oposição no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR). “O Congresso precisa agora interpretar o sentimento da população, pois está muito claro que não aguenta mais o que está aí”, complementou o ex-líder do PSDB na Câmara deputado Antônio Imbassahy (BA), que confirmou um encontro da bancada nesta semana para avaliar os desdobramentos dos protestos. 

De saída do PT, a senadora Marta Suplicy (SP) mais uma vez atacou a presidente Dilma Rousseff e defendeu o ato pacífico de ontem. “Os protestos foram contra os equívocos e a inércia de um governo que se tem mostrado incapaz de dar respostas a uma sucessão de crises. Que saibam compreender a mensagem das ruas”, alfinetou a senadora paulista, que se diz abandonada pela legenda. Especula-se que ela migrará para o PSB para ser candidata à prefeitura de São Paulo em 2016. 

Reforma política 

Em São Paulo, ao participar do protesto na Avenida Paulista, o presidente nacional do PPS, Paulo Freire, afirmou que “as ruas precisam decidir o que fazer e não mais se restringir às manifestações contra o governo”. Em Curitiba, o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), que também participou dos protestos, ressaltou que “só com o povo nas ruas, demonstrando sua indignação, poderemos vencê-la; a população fez a sua parte e temos esse movimento vitorioso”. 

Já os governistas vão investir na votação da reforma política para tentar dar uma resposta rápida às cobranças da sociedade. Válvula de escape da base, a proposta que revê a legislação eleitoral se torna um dos principais alvos no Congresso. No caldeirão de medidas que devem vir à tona agora, o governo terá de lidar também com as investigações da CPI da Petrobras, que podem sangrar mais o governo da presidente Dilma Rousseff, já prejudicado pela Operação Lava-Jato e pela lista dos denunciados peloprocurador-geral da RepúblicaRodrigo Janot

Líder do PT na Câmara, o deputado Sibá Machado (AC) convocou a bancada petista para avaliar juntos a repercussão das manifestações e tentar encontrar medidas que diminuam o desgaste do governo. “Foi uma manifestação ordeira e o diálogo agora tem de ser travado. O Congresso tem de votar medidas para destravar a economia e garantir o crescimento do país”, analisou Machado. Presidente nacional do PT, Rui Falcão foi além ao afirmar que pretende que o partido também mude pós-manifestações. “Vamos tomar medidas de ajuste, renová-lo. O Brasil muda, o PT muda com o Brasil.” 

Para o cientista político e exprofessor da Universidade de Brasília (UnB) Murilo Aragão, as manifestações enfraqueceram ainda mais o governo e expuseram a necessidade de melhorar a articulação política. “Apesar de a base dizer que o ato somou múltiplas agendas, tudo se catalisa em torno do governo, que sai como o grande derrotado das manifestações”, explicou. “Não existe solução mágica, mas uma coletânea de assuntos que precisam ser melhorados, como recuperar o diálogo; reconhecer que é um governo de coalizão; abrir a possibilidade de conversar com a oposição e reconhecer os erros para buscar o diálogo”, concluiu o cientista político.

>> Hackers invadem Twitter de Temer

A conta do vicepresidente da República, Michel Temer (PMDB), no Twitter foi invadida na tarde de ontem por hackers que publicaram uma foto de uma matéria de um jornal afirmando que, agora, “quem manda no Brasil é ele e seus parceiros (sic)”. O texto não deixava claro se a afirmação seria uma alusão à possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff ou às recentes desavenças entre o PMDB e a petista que vêm desgastando o Palácio do Planalto. A assessoria de Temer informou que o post foi retirado por volta das 18h40 e estão sendo tomadas as providências cabíveis para identificar o invasor.