BRASÍLIA

O Palácio do Planalto confirmou ontem a permanência de Luciano Coutinho na presidência do BNDES, completando assim o quebra-cabeça das nomeações para postos de comando nos bancos públicos. À frente do BNDES há quase oito anos, Coutinho mudou a forma de atuação do banco de fomento, que passou a receber pesados aportes do Tesouro Nacional para financiar, em condições facilitadas, projetos de investimentos, dentro da política anticíclica do governo federal. Entre 2008 e 2014, a instituição recebeu R$ 416 bilhões do Tesouro Nacional, segundo relatório disponível no site oficial.

O banco comemora o crescimento dos desembolsos, que atingiram 180 bilhões em 2013 e R$ 162,2 bilhões entre janeiro e novembro do ano passado. Mas teve a atuação criticada por privilegiar a formação dos chamados campeões nacionais, grandes empresas nos setores petroquímico, celulose, frigoríficos, siderurgia e cimento, que receberam empréstimos bilionários.

menos repasses

Essa política acabou sendo abandonada por Coutinho, diante dos resultados ruins de alguns negócios. A instituição alega que 62,8% dos recursos foram destinados às grandes empresas e 31,8% às pequenas e médias, mas este segmento respondeu por 96,4% do total das operações, segundo boletim de desempenho entre janeiro e novembro do ano passado.

Diante da necessidade do equilíbrio das contas públicas e da determinação da nova equipe econômica de frear os repasses para o BNDES, ainda no fim do ano passado Coutinho anunciou um ajuste nas linhas de crédito do banco, com aumento nas taxas de juros e redução nos prazos de financiamento.

Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, com a ida do ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine para a Petrobras, a presidente Dilma Rousseff passou a procurar alguém que tivesse o perfil para conduzir o BNDES em sua nova fase, de menos aportes do Tesouro, com redução do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e elevação da TJLP, a taxa de juros que baliza os empréstimos do banco. E Coutinho se apresentou para Dilma como a pessoa com conhecimento para conduzir a instituição no novo formato.

- Ele se colocou como a pessoa que poderia conduzir esse BNDES Light - disse um interlocutor.

Bendine chegou a ser convidado pela presidente para assumir o BNDES no lugar de Coutinho. No entanto, com o agravamento da crise na Petrobras e a saída de Graça Foster do comando da estatal, o Planalto teve que mudar seus planos.

Segundo fontes do governo, a presidente não conseguiu que ninguém do setor privado aceitasse o comando da Petrobras, que está envolvida em denúncias de corrupção expostas pela Operação Lava-Jato. Por isso, ela começou a testar no mercado nomes de dentro do governo, sendo os principais candidatos Bendine e Coutinho, que sempre manifestou o desejo de permanecer no banco.

Ele foi indicado ao comando do BNDES pelo então presidente Lula. Professor titular do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luciano Coutinho foi secretário-geral do Ministério da Ciência e Tecnologia entre 1985 e 1988, no governo de José Sarney. Antes de assumir o BNDES, era sócio da LCA Consultores, atuando como especialista em defesa da concorrência, comércio internacional, projeções macroeconômicas e de mercado.

Julio Hegedus, economista-chefe da consultoria Lopes Filho, diz que, daqui para frente, o governo quer que o banco tenha um papel diferente, com menor importância no crédito disponível no país. E acredita que Coutinho será capaz de se adaptar à nova fase, porque é considerado um bom acatador de ordens da presidente Dilma.

- A Dilma quer manter algumas pessoas de sua confiança no núcleo duro do governo, e o Coutinho é uma delas. Apesar de ser um economista de esquerda, não é tão refratário à política do ministro Levy. A bonança de recursos para o BNDES não vai mais existir, mas o Coutinho é bom em cumprir ordens e deve seguir a linha da presidente na fase de austeridade.

A opinião é compartilhada por Luiz Eduardo Portella, gestor da Modal Asset:

- A ordem no BNDES vem de cima. O mercado sabe que a política do banco não é a política do Coutinho, mas da presidente. O governo quer reduzir o papel do banco, e o Coutinho vai caminhar nessa direção.