BRASÍLIA - Excluído do núcleo decisório do governo, o PMDB está impondo uma agenda própria no Congresso. A intenção dos peemedebistas é manter distância "regulamentar" do Palácio do Planalto - apesar de terem sido parceiros na reeleição da presidente Dilma Rousseff - e articular na Câmara e no Senado a aprovação de matérias à revelia do governo. Estão no horizonte do PMDB a reforma política que mantém o financiamento privado das campanhas, na contramão do que Dilma defendeu na campanha; o projeto de lei que freia a criação e a fusão de novos partidos, que seria usado pelo governo para enfraquecer o PMDB; a PEC da Bengala, que aumenta de 70 para 75 anos a idade para aposentadoria no STF e no STJ, e pode impedir que Dilma indique cinco ministros; e a resistência às medidas provisórias que restringem a concessão de benefícios sociais.

Senadores e deputados peemedebistas afirmam que têm autonomia para atuar e que não há pedido do vice-presidente Michel Temer para que mudem de postura.

- Esse descolamento acontece porque o governo não funciona. O PMDB da Câmara e do Senado está com a pauta da sociedade, e o governo, com a pauta negativa, da crise política e econômica - disse um dirigente do partido.

Na semana passada, dois peemedebistas do Senado, o presidente Renan Calheiros (AL) e o vice-presidente Romero Jucá (RR), uniram-se para dar mais um golpe no governo. Jucá incluiu no Orçamento deste ano a liberação de R$ 10 milhões para emendas parlamentares aos deputados e senadores novatos, que assumiram dia 1° deste mês.

O que viabiliza a autonomia do PMDB é o fato de ter a maior bancada no Senado e, na Câmara, com a eleição de Eduardo Cunha presidente, reunir a seu favor partidos descontentes da base aliada e uma parte da oposição que, juntos, dão-lhe ampla maioria. Isolado nas duas casas, o PT tem pouca margem para reagir. As emendas de deputados e senadores petistas flexibilizando as regras defendidas pelo governo para restrição a seguro-desemprego e pensão por morte deram ainda mais munição aos peemedebistas, que entenderam como uma liberação para fazer críticas às medidas.

- Decidimos manter uma distância regulamentar do governo, que menospreza o PMDB. É uma tradição do PT não aceitar parceria e não combinar o jogo, acentuada pela desconfiança que a presidente e ministros têm com relação aos peemedebistas - afirmou um senador da cúpula do partido.

Pesou no voo solo do PMDB a tentativa de Dilma de enfraquecer o aliado e de insuflar o ministro Gilberto Kassab (Cidades) a operar a fusão do PSD com outros partidos, recriando o PL. O novo partido pretendia surgir como uma força compatível à do PMDB no Congresso, reduzindo a dependência do governo do partido de Temer. A estratégia palaciana, no entanto, deu errado, porque uniu os peemedebistas em torno da aprovação de um projeto de lei que dificulta a fusão de novas legendas com outras já existentes.

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Com pauta trancada, Senado passa mais de 20 dias sem produção   

BRASÍLIA

Enquanto a Câmara enfrenta uma maratona de votações sob o comando do novo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o Senado vai fechar a semana do carnaval com a pauta trancada por uma Medida Provisória - e ainda sob os reflexos da briga interna gerada pelo processo de releição do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e dos cargos da Mesa Diretora. Na prática, o Senado passará mais de 20 dias sem produção.

Os senadores têm comparecido, mas os partidos estão em discussões sobre a formação das comissões temáticas. Mesmo sem votações, o clima tem sido tenso: já houve bate-boca entre Renan e o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (PSDB-MG), por conta da manobra que excluiu os partidos de oposição - PSDB, DEM e PSB - dos cargos da Mesa Diretora.

Desde o dia 2, quando os trabalhos legislativos foram retomados, apenas na sessão da última terça-feira, dia 10, foi votado simbolicamente um projeto de decreto legislativo relativo a acordo entre o Brasil e a Organização Internacional para as Migrações, tratando das regras de funcionamento da entidade no país.

As indicações para as comissões temáticas do Senado e para o Conselho de Ética só serão formalizadas depois do carnaval. Nova sessão de votações só deve ocorrer dia 24, quando também foi marcada sessão do Congresso para discutir vetos presidenciais e o Orçamento da União de 2015.

Antes do carnaval, preocupado com o clima de guerra no Senado, Renan procurou o PSDB. Renan disse ao líder tucano no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), que quer se encontrar com ele na próxima semana. O presidente do Senado também prometeu procurar o próprio Aécio, para tentar restabelecer o diálogo. Mas há desconfiança sobre as reais intenções de Renan, porque a próxima batalha no Senado será a escolha dos presidentes das comissões temáticas.

O temor da oposição é ser excluída novamente. O PSDB quer o comando da Comissão de Fiscalização e Controle, com o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP). Mas Renan quer dar essa comissão para um aliado.

Mesmo sem votações, as discussões têm sido intensas, sobretudo em relação à conveniência de se falar ou não na palavra "impeachment" neste momento de crise do governo Dilma.