Título: Estudo abre portas
Autor: Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 24/07/2011, Economia, p. 12/13
Enquanto as mulheres negras encontram portas fechadas no mercado de trabalho, os homens brancos ostentam taxas de desocupação de países com pleno emprego, quando praticamente todas as pessoas que procuram uma vaga são contratadas. O chefe de cozinha Rodrigo Almeida, 33 anos, nunca teve dificuldades para encontrar uma colocação. "Considero que tive sorte", define. Desde o início de sua carreira, quando ainda tinha 18 anos, teve todas as oportunidades para crescer profissionalmente. Embora já tivesse atuado no comércio ao lado de seus pais, foi na cozinha que ele se encontrou. "À época, fiz um curso de culinária em Minas Gerais e logo tive a carteira assinada como ajudante. Depois, ocupei outros cargos", lembra.
Almeida já passou pelos melhores restaurantes de Brasília, até se tornar chef. Hoje, ele se diz realizado. "De uns cinco anos para cá, tenho um ótimo padrão de vida. Para realizar meu sonho, só falta abrir um restaurante", revela. Apesar do histórico de sucesso, ele não acredita em preconceitos e não considera que foi privilegiado no mercado por ser um homem branco. "A trajetória depende do esforço e da dedicação de cada um."
O advogado Leonardo Pretto Flores, 36 anos, também tem situação financeira e profissional confortável. Oportunidades não faltaram para ele ¿ cursou direito em uma boa faculdade particular, paga pelo pai, militar, e a mãe, professora. Graduado há oito anos, começou como estagiário e hoje atua em um dos maiores escritórios de advocacia de Brasília. "Nunca tive dificuldades em encontrar uma vaga", diz. Mas reconhece que a situação financeira da família facilitou. "Por isso, pude me dedicar ao curso." O gaúcho se mudou para o Distrito Federal aos 16 anos por causa do emprego do pai. "A sorte é que a capital é um ótimo mercado para minha área. Meus primos, que moram no Sul, passam maus bocados."
Truque Flores acredita que, se há uma fórmula para ser bem-sucedido profissionalmente, o truque é estudar. "A educação é importantíssima para alcançar bons resultados na carreira", indica. Ele não sabe o que é preconceito. "Não passei por situações constrangedoras. Acredito na educação porque tenho amigos negros que conseguiram crescer na profissão", justifica.
Apenas com o ensino médio, Roberto Machado Negreiros, 31 anos, está à procura de um emprego há menos de um mês, mas acredita que não terá dificuldades. Ele já trabalhou como garçom, servente e encarregado na construção civil, entre outras funções, e está disposto a encarar qualquer serviço. "O mercado está muito aberto. Há muitas vagas. Mas precisamos nos esforçar e correr atrás", diz. (CB)