Contando com o apoio da maioria dos líderes de bancadas, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decidiu dar prosseguimento aos preparativos para a construção do chamado Anexo V. Na reunião do colégio de líderes de ontem, Cunha relatou aos colegas sobre o andamento da proposta. Ele ponderou que o arrendamento do espaço para um shopping na área próxima à Câmara é “uma das possibilidades”. Contrariado com um suposto “vazamento” de informações, Cunha também decidiu afastar o diretor do Departamento Técnico (Detec) da Câmara, o engenheiro Maurício da Silva Matta. Dos líderes partidários ouvidos pela reportagem, apenas o do PPS, Rubens Bueno, se colocou contra a expansão. Estimativas da própria mesa informam que a obra deve custar até R$ 1 bilhão. Segundo parlamentares ouvidos pela reportagem, Cunha quer garantir o “controle” sobre o processo que envolve a construção do novo prédio. “Ele afastou o diretor da Casa porque ele que deu aquela declaração de forma antecipada. O diretor fez uma colocação como se aquilo (a construção de um shopping por meio de PPP) fosse uma decisão final, e não é. Aquilo é uma das possibilidades”, disse o líder do PSC, André Moura (SE). Procurado pela reportagem, Matta confirmou o afastamento do cargo, mas disse que ainda não havia sido comunicado oficialmente até o começo da noite de ontem. Servidor de carreira da Câmara, Matta conversou com jornalistas sobre o tema, inclusive com o Correio, mas não forneceu detalhes sobre a proposta de parceria público-privada. “Eu acho que a PPP é salutar, é boa. Agora, o presidente deixou claro na reunião (do colégio de líderes) que não houve nenhuma definição daquela posição, que foi colocada na imprensa, de que seria um shopping”, disse André Moura. “Nós achamos necessário que haja de fato uma ampliação do espaço da Câmara. Frente aos outros prédios públicos, o nosso espaço é bastante antigo e reduzido. E nós temos a questão de que quase 100 deputados ficam numa situação diferenciada”, comentou o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ). Sem entrar no mérito da expansão em si, a deputada Jandira Feghalli criticou a proposta de parceria público-privada. “Isso aqui é uma Casa pública. Não dá para fazer disso aqui um trampolim para ganhos privados. O recurso que chega até nós tem que ser exclusivo para o trabalho do Congresso”, disse ela, que é considerada uma opositora da gestão de Cunha. Anteriormente, o líder do PT, Sibá Machado (AC), já havia dito que era favorável à expansão do espaço físico da Casa. A expansão prevista para a Câmara prevê a construção de até quatro novos prédios, no espaço que fica atrás do Anexo IV. O primeiro deles, originalmente conhecido como Anexo V, foi concebido ainda durante a gestão do ex-deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), antecessor de Cunha no cargo. A proposta é de que o prédio, com três andares e três subsolos, ocupasse o espaço hoje destinado à garagem do Anexo IV. Além de salas de trabalho, ele contemplaria um amplo auditório que poderia ser usado como plenário pelos parlamentares, com 670 lugares; e mais vagas de garagem. O próximo passo, para garantir a ampliação do espaço dos gabinetes dos deputados, seria “replicar” o prédio atual do Anexo IV, do outro lado. Só a construção do primeiro prédio estava orçada em R$ 285 milhões pelo Detec da Câmara. Na segunda-feira, Cunha disse que pretende publicar, ainda este mês, a chamada Proposta de Manifestação de Interesse (PMI), uma espécie de “edital” para as parcerias público-privadas, que antecede a celebração do acordo. Além disso, a Mesa também estuda formas de viabilizar a PPP do ponto de vista legal. Hoje, só o Executivo está autorizado a celebrar PPPs comempresas.Nocomeçodoano, os parlamentares chegaram a incluir um dispositivo na Medida Provisória nº 656 de 2012, viabilizando as PPPs do Legislativo. A medida, entretanto, foi vetada pela presidente Dilma Rousseff.