Título: Tecnologia contra atrasos
Autor: Braga, Gustavo Henrique
Fonte: Correio Braziliense, 24/07/2011, Economia, p. 15
Fornecedores garantem que medidas na área de gestão dos terminais melhoram eficiência, antes mesmo de obras e privatização
Os investimentos e as mudanças no modelo de administração dos aeroportos, anunciados pelo governo para tentar romper gargalos históricos do setor aéreo brasileiro, despertaram o interesse de empresas especializadas no ramo de tecnologia para aviação. Fornecedores garantem que, independentemente do modelo de privatização a ser adotado no país e do início das obras de construção e ampliação de terminais, há imensa margem para a implementação de medidas que podem, a curto prazo, resultar em aumento da capacidade, como otimização de recursos e compartilhamento de espaços. Coordenadas com melhorias nas demais áreas de gestão aeroportuária, elas poderiam ainda promover avanços duradouros no segmento.
O nicho é promissor: só neste ano, a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), planeja investir R$ 94 milhões na área de tecnologia da informação (TI). A preocupação com o setor é ainda maior no Brasil por conta da realização de eventos como a Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Uma das empresas com planos para abocanhar uma fatia desse bolo é a Sita. Ela garante que consegue elevar a capacidade dos principais aeroportos brasileiros em 40%, em seis meses, apenas com a otimização de recursos de TI, sem mexer na infraestrutura física.
O modelo da Sita já foi implementado com sucesso em diversos aeroportos do mundo, mas o caso mais emblemático é o de Dusseldorf, na Alemanha. Lá, o controle é dividido em 50% de participação pública e 50% privada. Por meio de uma joint venture com a construtura Hochtief, dona de metade do aeroporto, uma terceira empresa foi criada para ficar responsável pela gestão de tecnologia: a Sait, que tem 70% do capital nas mãos da Sita e 30% com a Hochtief. Dessa forma, na prática, a Sita tem o controle de tudo que envolve uso de tecnologia nos terminais de Dusseldorf, desde a supervisão das bagagens aos sistemas de informação em tempo real para passageiros e companhias aéreas.
Norbert Steiger, vice-presidente de vendas da Sita para a América Latina e o Caribe, explica que, se consideradas exclusivamente as intervenções feitas pela Sita no aeroporto de Dusseldorf, o resultado foi uma queda de 12% nos custos anuais de manutenção, somada a um incremento de 20 milhões de euros nas receitas (cerca de R$ 44,6 milhões). "Nós implementamos uma nova filosofia de trabalho que muda a visão de negócio. A velha mentalidade, presente em muitos locais, é a de que o aeroporto vende espaço. No nosso conceito, o objetivo principal não é alugar espaço físico para lojas e companhias aéreas, mas serviços", afirma o executivo.
Demanda calculada Entre as transformações implementadas pela Sita, a mais visível no aeroporto de Dusseldorf é o compartilhamento de espaço. Lá, terminais de autocheck-in, guichês de atendimento das companhias aéreas e até locais para estacionamento de aeronaves ¿ slots ¿ são compartilhados. Sistemas de tecnologia calculam a demanda de cada empresa de aviação com base nas informações de pousos e decolagens. Desse modo, foi possível, por exemplo, reduzir o número de guichês, aumentar a quantidade de lojas e, consequentemente, a rentabilidade do aeroporto.
O sistema é o contrário do usado no Brasil. Aqui, a divisão de áreas leva em consideração, de forma rígida, o número de voos das companhias e o espaço disponível no terminal. "O problema é que, nesse modelo, as grandes empresas dominam quase todos os espaços mas, na maior parte do tempo, não os utilizam. De que adianta a companhia aérea ter 20 ou 30 guichês e não usar nem metade disso? No fim, a eficiência do aeroporto acaba comprometida", avalia Steiger.
No Aeroporto de Guarulhos, são 83 guichês para a TAM, 64 para a Gol, oito para a Webjet e 16 para a Avianca. Puma, Trip e Passaredo têm, cada uma, quatro. Um exemplo da ineficiência desse modelo ocorreu na última terça-feira. Uma pane de uma hora e meia no sistema de check-in da Gol, que foi solucionada às 8h30 daquele dia, causou atrasos generalizados em todo o país. Por volta das 16h, cerca de 40% dos voos ainda estavam atrasados.