Título: UE reacende otimismo nos mercados
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Fonte: Correio Braziliense, 24/07/2011, Opinião, p. 18

A distensão nos mercados mundiais que se seguiu ao acordo para evitar a falência da Grécia, malgrado nos termos de maldisfarçada moratória, é o melhor testemunho de que a decisão adotada pela União Europeia (UE) foi a mais consistente e atenta à realidade. A ajuda de 159 bilhões de euros observou critério fundado em ampla e bem-sucedida mobilização dos recursos e de ajustes creditícios adequados à superação da crise. Mais importante é que o modelo, sublinhado por longos prazos de refinanciamento, abre espaço ao devedor para acumular saldos com mais presteza a fim de resgatá-lo. Melhor, em perspectiva distante de turbulências políticas e sociais.

Outro ponto a destacar consiste no aliciamento da soma reservada ao plano de salvação. Dos 159 bilhões de euros, 37 bilhões resultarão da troca de papéis, em poder de bancos e fundos privados, por outros cobráveis entre 15 e 30 anos à base de juros favorecidos. A fórmula também contempla as hipóteses de rolagem suave da dívida e recompra de títulos públicos com desconto. As instituições financeiras entenderam que eventual default da Grécia as levaria a 100% de prejuízos, enquanto as alternativas baixariam as perdas a 20%. As nações europeias e o Fundo Monetário Internacional (FMI) contribuirão com 109 bilhões de euros. E os restantes 13 bilhões procederão de programa vinculado à aquisição de papéis do governo de Atenas.

Negociação complexa, como se vê, não poderia ser concluída antes do amadurecimento da conciliação de propostas e da atração dos credores privados. Entenda-se que a reunião dos 17 governantes da zona do euro, na qual se decidiu o futuro da Grécia, cuidou de agenda adicional. As concepções brandas ali aprovadas para desarmar a crise grega passarão a valer para outros parceiros, como Irlanda, Portugal e Espanha. Serão favorecidos com suprimentos de bancos privados, juros mínimos e troca de títulos vencidos ou a vencer por outros de prazos mais largos.

Anote-se que, no mesmo encontro dos líderes da Zona do Euro para fechar o pacote em favor de Atenas, deu-se permissão ao fundo de estabilidade europeu para comprar, no mercado secundário, títulos de Estados-partes sob ameaça de iliquidez. Trata-se de avanço medular para assegurar maior estabilidade à UE, pela eliminação de um dos fatores que poderiam levá-la à desintegração.

Ao revelar ao mundo capitalista que dispõe de ferramentas políticas e financeiras para sustentar a integração monetária nos espaços do bloco aduaneiro, a UE afasta a histeria dos mercados e os conduz a cenário de otimismo. Advirta-se, contudo, que a fiscalização do Banco Central Europeu (BCE) é pressuposto indispensável para evitar diretrizes fiscais temerárias. A recorrência sem limites a planos de socorro constituirá desgaste irreparável ao pacto regional.