O estado anunciou ontem uma série de medidas para garantir o funcionamento de quatro importantes indústrias do Rio até o fim do ano. Com a estiagem, Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), Gerdau, Fábrica Carioca de Catalizadores (FCC) e Furnas, todas instaladas na foz do Rio Guandu, têm encontrado dificuldades para captar água doce. Um fenômeno chamado intrusão salina, quando as águas da Baía de Sepetiba invadem as do Guandu, deve se intensificar nos próximos meses, quando a vazão do Paraíba do Sul sofrerá novas reduções. As intervenções foram anunciadas apesar de o nível do Paraibuna, o maior dos quatro reservatórios que abastecem a Região Metropolitana do Rio, ter subido para 0,08% no domingo, depois de operar desde 21 de janeiro no volume morto.

Após reunião no Palácio Guanabara com o governador Luiz Fernando Pezão e a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, disse que o governo estuda a construção de um enrocamento para conter a invasão do mar e garantiu que as empresas terão que custear obras para mudanças em suas captações. Consideradas emergenciais, as intervenções não tiveram seus prazos de execução divulgados.

- Estamos usando 11 mil litros por segundo de água para empurrar a água salgada (em direção à Baía de Sepetiba) e garantir o funcionamento dessas indústrias. Isso não pode persistir no Rio de Janeiro. Não tem qualquer racionalidade. Mas é claro que não podemos simplesmente decretar: "Empresas, parem (de funcionar)". São indústrias importantes, geram empregos, energia. Uma das possibilidades é a construção de um molhe de pedras, para ajudar a evitar a intrusão salina. A outra é a construção de uma adutora de 14 quilômetros rio acima, um investimento a ser feito por essas companhias - disse Corrêa.

Ontem à tarde, o secretário esteve com os representantes das quatro empresas em mais uma das reuniões que acontecerão todas as quartas-feiras, no chamado gabinete de emergência. Corrêa reforçou que não há prazo definido para as duas obras, mas acredita que o enrocamento possa ficar pronto em três meses.

Redução da vazão no paraíba do sul

Afinando os discursos, os governos federal e estadual informaram que a vazão do Paraíba do Sul, que abastece mais de 15 milhões de pessoas em Rio, São Paulo e Minas Gerais, terá mesmo que ser diminuída, ainda nos próximos meses, para 110 metros cúbicos por segundo na elevatória de Santa Cecília - atualmente é de 140 metros cúbicos por segundo. Em Santa Cecília, há o desvio de mais da metade do curso do Paraíba do Sul para a Região Metropolitana do Rio. Gestores fluminenses não eram favoráveis à redução da vazão. Até o fim de fevereiro não haverá mudanças. As alterações devem vir escalonadas, a partir de março.

- Estamos trabalhando com cenários mais restritivos, considerando que a estiagem se prolongue em 2016. O objetivo é assegurar a oferta de água para 2020. O Rio não tem a condição crítica que têm hoje São Paulo e Espírito Santo. Vamos disponibilizar o corpo técnico da Agência Nacional da Águas (ANA) para a construção do enrocamento do Guandu, diminuindo a dependência das empresas. Saio otimista - afirmou Izabella Teixeira.

O secretário estadual do Ambiente não quis estabelecer prazos para as intervenções, mas anunciou que obras de R$ 930 milhões são necessárias para driblar dificuldades em tempos de escassez, em todo o estado. À ministra, Corrêa pediu ajuda de R$ 360 milhões para essas obras. Em resposta, ouviu que a presidente Dilma "tem se empenhado" para ajudar os estados. Evitando falar em racionamento - "O Rio tem água, mas precisa administrar essa água com racionalidade", lembrou -, a ministra Izabella Teixeira destacou que o abastecimento urbano no Grande Rio está garantido por causa da enorme capacidade do Paraibuna. A hidrelétrica de Paraibuna, operada pela Companhia Energética de São Paulo (Cesp), voltou a produzir energia.

A Região Metropolitana do Rio, com exceção de Niterói e São Gonçalo, é abastecida por quatro reservatórios de água do Paraíba do Sul: Paraibuna, Santa Branca e Jaguari, que ficam em São Paulo; e Funil, em Itatiaia, no Sul Fluminense. A média dos quatro reservatórios subiu de 1,21% para 2,17% nos últimos três dias. A represa de Santa Branca é a única das quatro que permanece no volume morto, registrando patamar negativo de 3,87%. Jaguari está em 3,19%. Funil, em Itatiaia, apresenta volume útil de 13,05%, a maior recuperação.

O desvio do curso de rios poluídos da Baixada, que hoje interferem na estação do Guandu, está na lista das prioridades do governo. A quantidade de esgoto que chega à captação da Cedae tem sido motivo de críticas de especialistas em recursos hídricos. As obras estão orçadas em R$ 77 milhões.

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Limpeza de lápides muda para evitar desperdício  

Alarmados com a crise hídrica, os cemitérios do Rio também estão tomando medidas para economizar água. No início deste mês, a concessionária que administra o São João Batista, em Botafogo, suspendeu por 60 dias a lavagem de jazigos. Já no Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju, familiares são orientados a levar água de casa. E, no vizinho Cemitério da Penitência, equipamentos controlam o consumo.

No São João Batista, onde se encontram os túmulos de personalidades como Tom Jobim, Carmen Miranda e Clara Nunes, funcionários foram orientados a fazer a limpeza com pano úmido até abril. Além disso, a recuperação de lápides históricas e da fachada do cemitério, administrado pela Rio Pax desde agosto do ano passado, foi interrompida. A restrição se estende aos cemitérios de Irajá, Inhaúma, Jacarepaguá, Campo Grande e Piabas, também geridos pela concessionária. A expectativa é economizar 150 mil litros.

- Temos 30 zeladores cadastrados no São João Batista. Com uma mangueira, até cem litros são gastos na limpeza de um jazigo. São no mínimo três mil litros por dia - disse Lourival Panhozzi, diretor dos cemitérios da Rio Pax.

Há três meses, a concessionária até comprou uma máquina com jato de pressão, que reduz em 90% o consumo de água. Mas, com a nova restrição, o equipamento foi deixado de lado.

Os culpados pelo desperdício também podem ser encontrados além dos muros. Segundo Panhozzi, em seis meses a concessionária já descobriu oito ligações clandestinas de água feitas por pessoas que vivem nos arredores de seis cemitérios. Em apenas um deles, a conta chegou a R$ 30 mil mensais.

No complexo de cemitérios do Caju, o consumo também foi restringido. No da Penitência, foram investidos R$ 3 mil na instalação de equipamentos que monitoram o abastecimento e os níveis das caixas d'água. A estimativa é de 15% de economia. Já no São Francisco Xavier, o registro passou a ficar aberto pela metade durante o dia. Segundo a administração, se parentes querem limpar os túmulos, são orientados a levar água de casa.

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SP cobra multa de quem aumentou consumo de água  

São paulo

O governo de São Paulo começou ontem a enviar as primeiras contas de água com multa para os moradores da Região Metropolitana que aumentaram seu consumo no último mês. A medida prevê punições que variam de 40% a 100% do valor da conta para quem gastou, em janeiro, 20% acima da média do consumo nos 12 meses anteriores.

A Fundação Proteste, associação de consumidores que havia obtido na Justiça a suspensão da cobrança da multa em 13 de janeiro, divulgou ontem em seu site três modelos de petições para os consumidores que quiserem questionar a cobrança. A associação argumenta que o governo do Estado deveria decretar racionamento antes de iniciar a punição.

A Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) diz que o consumidor tem o direito de recorrer da multa. Serão revistos pela empresa, por exemplo, casos de famílias que se mudaram recentemente para outro endereço ou que aumentaram de tamanho. A expectativa do governo é que 5% dos consumidores paguem a multa.

Desperdício poderá custar R$ 1 mil

Uma lei que visa a punir quem desperdiça água deve ser votada na Câmara dos Vereadores de São Paulo esta semana. A proposta prevê a cobrança de até R$ 1 mil de quem usar água potável para lavar calçadas ou carros.

Chamada pelo governo paulista de "sobretaxa de contingência", a multa é mais uma medida para tentar evitar o racionamento de água. Pesquisa Datafolha divulgada ontem pelo jornal "Folha de S.Paulo" revelou que 60% dos moradores da Grande São Paulo são favoráveis ao rodízio, 38% são contrários e 2% são indiferentes. O levantamento também mostrou que 71% dos entrevistados na capital ficaram sem água pelo menos um dia no último mês.

Ainda ontem, a Sabesp divulgou um balanço dos ganhos obtidos com a adoção de bônus para quem economiza água. Em um ano, os consumidores deixaram de gastar 100 bilhões de litros, o equivalente a 10% do sistema Cantareira, o mais afetado pela crise. Em janeiro, 78% dos clientes da Sabesp economizaram água.